A cura de uma cega
Kewin era do tipo de gente que retinha as palavras. Ele se calava mesmo e quando falava parecia que caia escombros da boca dele, era estranho...
Na cidade dos cegos, todos odiavam gente calada, porque isso simplesmente os irritavam, era algo como um comichão que dava no juízo dos cegos.
A pequena Princesa Cega, era uma menina muito simpático embora fosse hedonista e sagaz ao extremo.
Ela reinava pra valer na cidade dos cegos, que não era qualquer cidade, mas sim, uma representação da alta cúpula do céu na terra dos seres viventes.
A cidade dos cegos se mostra crespa e suas casas tinham gosto de cebola, sim isso mesmo, elas eram comestíveis.
O caso extraordinário em cidade dos cegos era a casa bem peculiar e raríssima de Kewin Soir que foi construída desde os alicerces até o teto com guloseimas, doces e coisas de confeitaria.
A grama da Casa Gentil como era conhecida era feita de algodão doce e o chão da casa tinha uma cobertura de sorvete de chocolate com brigadeiro.
Kewin adorava receber visitas, mas elas nunca aconteciam, só porque os cegos detestavam o grande contraste em que enquanto Kewin vivia com prazer, eles os cegos choravam em meio as cebolas existenciais.
Certo dia a pequena Princesa Cega decide ver a doçura de Kewin...
a representação celestial da cidade dos cegos reprovou a ideia obrigando assim que a pequena Princesa Cega de cabelos loiros como ouro misturado cor de caramelo e com olhos de leoa, se tornasse uma rebelde, e das más.
A Princesinha adorava possuir, na cabeça dela o mundo e as estrelas estavam na sua coleção de joias brilhantes para fazer companhia ao seu coração destruído, sentimentos superficiais e julgamentos injustos que ela bem que tentava esquecer...
As escondidas a princesinha saiu do Castelo do Desejo realizado e disfarçada de zebra, saiu na madrugada castigante de uma noite sombria até chegar a residência de Kewin Soir.
"Toc...toc... toc..." Kewin ouve alguém bater suavemente na porta de sua cara.
É de estranhar como o fato de Kewin não se permitir consumir todos aqueles e esses elementos contidos no texto, da princesa (pobre princesa) a casa gentil feita de gostosuras e doces em geral, claro.
Canibal por canibal, nãoa adiantaria mesmo...
Kewin Abriu a porta e após ficar 5 minutos sem acreditar no que viu pelo espelho mágico da porta.
Ficou nesse momento imaginando como deveria agir.
- Olá, Senhorita sobre a pele de zebra, que honra receber-te em meu doce lar, doce morada!, Kewin hesitava com a sua voz, ele estava sendo forçado.
- Ha, ha, ha, sabe o que é..., ehh..., senhor doceiro Kewin, é que eu só queria te ver, queria saber se você poderia abrir meus olhos com as suas poucas e desprezíveis palavras...
Kewin se condoeu, mas dessa vez não hesitou.
- O doce aqui seria uma compensação então?, é isso mesmo?
Kewin nesse momento sentia vontade de morrer, afinal estava sendo brutalmente humilhado por uma leoazinha com pele de zebra, com jeito de presa, como o mel.
- Suas dores em forma de agradecimento, me fazem ver finalmente, eu estou lisonjeada, Senhor Doceiro, querido Kewin Soir!
Neste momento ela ganha um sorriso jovial em seu rosto instantaneamente,
em tudo dentro daquela casa deliciosa imediatamente parece estar ficando azul, um azul morno, iluminado e velho.
- Senhorita, me perdoe mas quero que sinta a minha fuga, eu já sou intencionalmente um criminoso, só de pensar o que penso, agora, por favor, entenda que você não está pronta pra abater nem ser abatida.
- Você está falando do meu corpo? neste instante a princesinha retira de si o disfarce de zebra - Eu não posso acreditar que você tem uma esplendida visão e não consiga quantificar as veredas da minha estrutura.
Ela fica raivosa, porém com boas intenções.
- Por favor... quero que compreenda o quanto é difícil ser eu..., e que se eu deixar aparecer o que é invisível aos seus olhos, você fará desfalecer o que era essencial...
Kewin finge que está preocupada e vai com certa calma pegar uma faca na cozinha.
A pequena Princesa Cega tinha uma doce pele amarela-branca com sardas que inspiravam o sexto elemento ou uma sinfonia da natureza.
A tempestade nesse dia estava num sono profundo.
Não havia ninguém que soubesse sabedoria.
Todos dormiam felizes coma cegueira eterna.
Será que o seu amor é forte o bastante? forte como um leão faminto? forte como a lua orbitando a terra?
forte como o mar furioso? será que o seu amor é verdadeiro?
um amor pra ficar marcado como uma cura.
Um milagre ou um pão do céu...
o ambiente era preto e branco, com a luz da lua entrecortada.
Kewin segurava uma faca com uma lâmina cumprida e que com ímpeto lhe ameaça.
Brilhava com o estímulo da ameaça. Ele vinha caminhando bem de vagar, enquanto (queria que fosse eu) admirava aquele corpo
magro e esbelto deitado e curvado sobre aquela tabula cheia de curvas indecentes de sua casa.
Num sofá estranho.
Dava pra ver muito bem destacadas as costelas, não era nada haver com um caso de anorexia, até porque a pequena Princesa Cega era só um tanto vaidosa...
Uma linha, duas linhas, três linhas, quatro linhas, cinco linhas, seis linhas, sete linhas, outro linhas, dois círculos e quatro meia-voltas e pronto toda a roupa que vestia a pequena Princesa Cega estava cortada pela faca.
A sinfonia então começou a tocar.
A pequena dizia coisas aos ouvidos adocicados, só Deus sabe o que ela lhe confessava.
E as coisas foram se tornando quebradiças...
E derreteram-se as doçuras para sempre...,
derreteram-se as noites que não foram com inveja dessa noite.
Ensanguentada de azul morno e brilhante velho que sussurrava nada mais nada menos que um letal e rude amor.