O(s) maior(es) inimigo(s) da razão

Talvez tenha sido precipitada, mas não conseguia pensar (a raiva é, sem dúvida, a maior inimiga da razão. Bem mais que o amor ). Decidi, então, pegar minha bolsa, sair por aquela porta e nunca mais voltar. Vacilei por alguns segundos ao portão. Observei aquela rua que agora me parecia tão desconhecida, sombria e grandiosa. Não ouvia o que ele insistentemente perguntava. Recusei-me a ouvir. (A raiva é, sem dúvida, a maior inimiga dos seus ouvidos. Bem mais que o amor).

Com a maior ‘certeza incerta’, deixei minha aliança em seu bolso e caminhei apressadamente sem sequer olhar pra trás. Eu queria me mostrar forte, embora meu coração sangrasse. “Não podia. Não naquele momento”. Mas, virada à esquina, as pernas fraquejaram, as lágrimas rolaram e foi então que realmente pensei. Soube o que estava fazendo de errado, mas o orgulho não me deixou voltar. Andei mais alguns passos afrouxados e, instintivamente, peguei o celular (torna-se mais fácil não ter que olhar nos olhos da pessoa). “Peça-lhe desculpas, diga que errou, volte atrás, deixe o orgulho pra depois”. Era isso o que meu coração dizia. Mas, não, eu não o fiz (o orgulho é, sem dúvida, o maior inimigo da razão. Bem mais que o amor). E então pedi que apenas acompanhasse até onde pudesse caminhar sozinha. Pude ver que seus olhos se enchiam de orgulho, como os meus. Não se recusou a mostrar-se forte, mas recusou-se a perdoar. Ao meio do caminho, não queria continuar. Queria voltar atrás. Mas foi a vez dele não querer... (Bem que lhes disse sobre o orgulho...)

Aquelas ruas pareciam-me uma estrada sem fim, eu regressava e progredia, na vontade de não terminá-las. Chegamos, então, ao ponto final. Tentei convencê-lo, mas ele já estava convencido...Pelo orgulho. Pedi-lhe desculpas, mas foram recusadas. E então decidi, embora não quisesse, que deveria partir. Esperei pelo meu ônibus que, ironicamente, demorava. Mas vacilei ao vê-lo chegar ( nessas horas, torna-se difícil decidir qual caminho tomar). Tentei, mais uma vez, conversar, mas ele se recusou. Por fim, desisti de tentar (às vezes, é necessário que desista para que o outro tente). O que fazia era apenas impedir que minhas lágrimas rolassem, porque eu ainda queria me mostrar forte.

Alguns silenciosos minutos se passaram. E, inesperadamente, ele pediu minha mão. A aliança, que ainda estava em seu bolso, voltou para meu dedo. Eu sorri, com aquele sorriso amarelo. E pedi-lhe desculpas mais uma vez. Ele sorriu para mim, pediu um beijo, demos as mãos, atravessamos a rua.

Fomos comprar pão de queijo...Sinceramente? Foi o mais demorado e mais delicioso que já tinha comprado, porque às vezes é necessário um pouco menos de orgulho...De ambos.

(Julho de 2012)

Por Jéssica França
Enviado por Por Jéssica França em 30/12/2012
Reeditado em 20/12/2013
Código do texto: T4060637
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