Intelectuais versus Intelectóides.

Intelectuais versus Intelectóides

Jorge Linhaça

Existem palavras que caem no uso comum e ganham um caráter ofensivo.

Intelectóide éuma delas. Se analisarmos a origem poderíamos dizer que intelectóide é o que tem a forma ou semelhança do intelecto.

Pois bem, considerando que os dito intelectuais são um porre homérico para a cabeça de qualquer pessoa comum devido à maneira pouco digestiva de se expressarem sobre os assuntos de sua área de interesse, usando palavras alheias ao vocabulário dos simples mortais, creio que os intelectóides tem muito mais a fazer pela humanidade do que os gênios.

Um intelectóide seria algo entre o cidadão comum e o intelectual, geralmente capaz de compreender boa parte de ambas as linguagens: A culta e a popular.

A grande vantagem do arrazoamento dos intelectóides sobre o dos intelectuais é que os intelectóides pisam o barro da terra e misturam-se com a chamada classe popular.

Já os intelectuais, salvo raras exceções, mantêm-se numa espécie de Monte Olimpo da sabedoria humana. O paradoxo aqui é que, assim como os pobres e as minorias, os intelectuais se fecham em guetos restritos a outro tipo de população.

Enquanto os intelectuais teorizam sobre coisas que desconhecem na prática, os intelectóides buscam respostas e soluções simples, sentindo na pele boa parte das coisas que os intelectuais conhecem de ler, ouvir falar ou ver na TV.

Um intelectóide é capaz de sair com uma pérola do tipo: “ Para que a população aprenda cidadania é necessário que bote a mão na massa e cuide de suas praças, logradouros e escolas, não ficando na dependência exclusiva das ações do poder público”

Já o intelectual, se fosse dizer a mesma coisa, consumiria capítulos e mais capítulos de um livro que precisaria ser lido com o auxilio de um dicionário. Teceria loas e mais loas ao poder público, aos problemas da população, à falta de educação cidadã e etc.

Descambaria para um estudo socioeconômico embasado em estatísticas seculares, levantaria problemas de ordem antropológica e sociológica para defender o seu ponto de vista e ao fim ao cabo, acabaríamos não entendendo 20 por cento do que ele disse, porque disse e qual a conclusão disso tudo.

Confesso que já me senti ofendido de ser chamado de intectóide, mas também já me senti ofendido de ser chamado de intelectual. Entre os dois, após muito refletir, prefiro ser um intectóide, conhecendo por certo muito menos da teoria a que os intelectuais tenham acesso, mas falando daquilo que vejo e sinto, tendo por fonte a vivência dos problemas e não apenas o que escreveram a respeito.

Salvador, 30/12/2012.