Sobre uma poeira no ar.

O bandido da esquina é dos males o menor. Mas o latifundiário da bancada ruralista não é o teto da criminalidade. O pior ainda está por vir. Enquanto me olhar no reflexo de carros e vitrines e continuar a ignorar os sinais do gritante silêncio da consciência, só conseguirei chegar mais perto do pior. O ímpeto à inspiração é raro, já a ânsia de expirar, até mesmo a própria vida, é grande e constante. Além da fé e da arte o que há mais para se jubilar? Sou uma equação, e a cada incógnita que me é adicionada surgem três ou mais outras opções; mais letras ou símbolos que não se combinam e que nada significam. Vou abrindo minha camisa, botão por botão, mas de lá nada sai e nada entra. Um vazio, deserto. Ali tem uma forma única, só algo específico cabe ali. Só a verdade. E essa não me impede de criar. Assim como cada uma das obras primas das construções possui uma base, uma fundação, a arte de um poema ou uma prosa só sai se bem fundada, só sai se reconhecida a verdade. O pior só não virá se me encarar bem no espelho. Os males e a bandidagem só se extinguirão se em pouco tempo (ainda há algum?), perceber que sou mera e ínfima humana. Não há nada de mais nisso. Ser um ser não me dá forças extras, não me torna superior. Basta lembrar que no fundo sou apenas uma caveira, como qualquer um. Um monte de ossos feito do pó da terra. Não é circunstancial e nunca vai ser, viver.