50 Tons de Vermelho
50 Tons de Vermelho
Jorge Linhaça
São tantos os tons de vermelho que permeiam a nossa existência.
Seja o vermelho mais vívido ou o mais escurecido, ou mesmo o vermelho misturado a outras cores em doses diversas.
Há o vermelho dos olhos que choram de dor, de fome, de saudade, de desamor...
Há o vermelho da face que se encoleriza ou o rubor da face que de quem fica desconcertado.
Há o vermelho das sirenes de ambulância tentando abrir caminho entre o trânsito caótico das grandes cidades.
O vermelho do farol, semáforo ou sinaleira, indicando o perigo de seguir adiante.
O vermelho da cruz das placas que indicam um hospital.
O vermelho Ferrari do sonho de consumo de muitas pessoas.
O vermelho da terra impregnado nos poros do lavrador.
O vermelho de um coração que indica paixão.
O vermelho das roupas sensuais.
O vermelho das chagas de Cristo pregado na cruz.
O vermelho dos cabelos ruivos.
O vermelho do sangue que escorre nas ruas e estradas em épocas que deveriam ser festivas.
O vermelho do Cynar encontrado na garrafa dentro do carro que atropelou, feriu e matou pessoas.
O vermelho aguado dos mil abortos desnecessários.
O vermelho que escorre das violentadas, sexualmente ou não.
O vermelho das roupas de Papai Noel.
O vermelho do manto de Cristo, disputado aos pés da cruz num jogo de dados.
O vermelho dos tronos.
O vermelho das luzes das casas de tolerância.
O vermelho que recobre o sol durante o poente e espalha-se pela paisagem distante.
O vermelho que é vida que é morte.
Que é alegria e tristeza.
Que é urgência ou socorro.
Que é lascívia ou sacrossanto.
O vermelho é apenas uma cor, como tantas outras cores, mas se reveste dos mais diversos significados nos seus mais diversos tons.
Salvador, 29/12/2012