A multidão.
O pai levava o filho de 16 anos para o seu trabalho. De repente, foram surpreendidos por uma multidão ao longo do caminho. Muita gente mesmo. Policiais organizavam a fila imensa. Pessoas em barracas acampadas. Vendedores faziam a festa, oferecendo de tudo: cachorro-quente, sucos, cabo para recarregar celular, camisas de times de futebol, CDs piratas, pipoca, salgadinhos, cerveja, banquinhos pra sentar, pastel, o diabo. Helicópteros de redes de televisão transmitiam ao vivo para o país e o mundo. Ambulâncias recolhiam os que desamaiavam - muitos estavam lá há dias só pra pegar lugar na frente. Mães desesperadas por terem perdido seus filhos pequenos no meio da multidão. Pregadores gritavam palavras de fé tentando ampliar o seu rebanho. Cambistas vendiam posições privilegiadas a preço de ouro. A prefeitura instalou dezenas de banheiros públicos ao longo do trajeto. O pessoal do trânsito desviou o fluxo de carros para não tumultuar ainda mais a situação. Telões estrategicamente colocados mostravam detalhes da fila, com repórteres colhendo depoimentos sem parar. Out-doors ocupavam os lugares de melhor visibilidade vendendo de tudo. VIPs e autoridades ficavam no local isolado para reprimir o assédio e garantir a segurança. Num cálculo pessimista, umas 50.000 pessoas se aglomeravam ao longo do percurso à loja só aguardando a hora de abrirem suas portas.
Esta é uma sugestão de pesadelo para quem, como meu filho, está passando pela experiência do primeiro emprego como um caixa de uma grande loja de artigos esportivos e que tem, como única preocupação quando chega ao serviço, a quantidade de pessoas e carros estacionados.
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