Chega de Violência contra a Mulher
Violência Contra a Mulher- Só a Maria da Penha não basta.
Jorge Linhaça
A cada dia somos insultados, cuspidos e escarrados em nossa face, com as notícias recorrentes de violência física cometida contra mulheres de todas as idades, etnias e classes sociais.
Assassinatos, espancamentos e estupros são os casos mais noticiados pela mídia.
Após a euforia inicial causada pela aprovação da Lei Maria da Penha, parece que muito pouco mudou nesse quadro deprimente de nossa sociedade.
Infelizmente muitas mulheres carecem de independência financeira e emocional e sujeitam-se a serem agredidas por seus companheiros por acreditar que “ruim com ele, pior sem ele”.
Por outro lado, o histórico de agressões está geralmente ligado ao quadro de dependência química, seja de drogas lícitas ou ilícitas e acabamos por ouvir coisas do tipo: “ Ele só me bate quando está bêbado, quando ele não bebe é um amor”.
Mas não podemos ser tão simplistas a ponto de não perceber que existe um problema cultural envolvido em tudo isto. A mulher, em uma sociedade machista é considerada como propriedade ou objeto. Nossa sociedade sofre de um machismo crônico, perpetuado e amplificado por programas televisivos e comportamentos imitados por uma boa parcela das mulheres que acredita que a beleza e a sexualidade lhe conferem imunidade contra qualquer tipo de coisa.
O sexo fácil é vendido não apenas em programas de TV, com mulheres expondo seus dotes físicos e até mesmo fazendo apologia à “pegação”.
É vendido nas letras de música que denigrem a imagem da mulher das maneiras mais escrachadas ou subliminares, transformando-as em meros objetos de desejo e incitando o ato sexual nas letras ou nos gestuais dos cantores do momento.
O pior é que grande parte do público que consome tais músicas, frequenta shows desse tipo é formado justamente por mulheres que comparecem no maior estilo “periguete”, exibindo suas formas e cantando os refrões obscenos enquanto insinuam atos sexuais em suas coreografias.
Ao assumirem esses tristes personagens, e deixando-se levar pelo calor do momento, não colocam em risco apenas a própria segurança, mas também a de tantas outras mulheres que, seguindo os modismos, vestem-se e comportam-se como se estivessem disponíveis para qualquer coisa.
Não amigos, não estou caindo no discurso machista de que as mulheres são as únicas culpadas pela violência que sofrem. No entanto não vou ser tolo ou hipócrita a ponto de dizer que esses tipos de comportamento não contribuem para que, numa sociedade machista onde prolifera o sentimento de ”ninguém é de ninguém e as mulheres são de quem pegar”, o despreparo emocional, a insegurança psicológica e o sentimento de posse a qualquer preço , sejam exacerbados em alguns exemplares da fauna masculina.
O fato é que, quando uma mentira é contada milhares de vezes ela assume a aparência de verdade. Somos bombardeados, todos os, dias com imagens e “músicas” que atribuem à mulher o papel de “cachorras” “poposudas” e” periguetes” pra não dizer outra coisa.
Vemos muitas mulheres assumindo publicamente esse rótulo, sendo agredidas em sua condição de mulher/ser humano e aplaudindo seus agressores verbais/ musicais.
Aí não há lei Maria da Penha que resolva, até porque a polícia, de modo geral, não tem como salvaguardar a segurança das mulheres 24 horas por dia. Já são vários casos de mulheres mortas que recorreram à Lei Maria da Penha por diversas vezes e acabaram assassinadas por seus ex-companheiros, apesar das ordens de restrição impostas.
Não basta apenas criar leis que punam os agressores, é preciso criar um ambiente social onde não se projete o sentimento de posse, onde a mulher não assuma o papel de “disponível para negócio”. É preciso que nossos artistas e compositores revejam seus conceitos de sucessos imediatos com hits de péssimo gosto.
É preciso reinventar ou redescobrir os limites entre a sensualidade e a vulgaridade.
Ou se repensa isso com seriedade ou não haverá lei que dê jeito.
Salvador, 29 de dezembro de 2012.