Poemas na pele
A ponta dos meus dedos percorrem uma trecho de pele, lisa, alva, macia, curvilineamente, desenhando palavras que se transformarão em versos que construirão um poema. A mulher, este ser diáfano, de respirar manso, adormecida, contrai os músculos, mas não impede que ali por sobre a sua pele o poeta construa um sonho em palavras poucas.
E repente ocorre-me a idéia de quantas mulheres neste nosso vasto mundo saberiam apreciar tal gesto, ou qual, dentre as quantas mais, se daria a importância a que lhe dá o poeta audaz que lhe imprime na pele a poesia própria, tal como ela se faz, repentina, frágil, e efêmera.
Que mulher se permitiria ser a lauda onde pensamentos poéticos estariam tão levemente impressos que nem mesmo de um banho precisaria para que as palavras ali destiladas desaparecessem, tornando-se apenas e tão somente uma ligeira pressão de dedos, invisível e portanto ilegível...mas inesquecível.
Assim como o poeta é insano o suficiente para criar tal obra de arte, só a mulher do poeta estaria eivada de tanto querer bem a ponto de aprecia-la, e não só, mas também, orgulhar-se de ter sido ela e não outra a ter gravada em sua pele de forma indelével mas invisível a obra do seu amado.
Sem dúvida os poetas são sonhadores...mas suas amadas também...