TOBI
Tobi era meu cãozinho de estimação e o encontrei na rua, perdido ou abandonado, já com alguns meses de vida. Foi uma amizade que surgiu sem muita cerimônia. Apenas nos vimos e ele me seguiu até em casa, abanando o rabinho e balançando o corpo num gingado malandro e descontraído. Parecia ter sido sempre meu aquele cão vira-latas.
O pelo de Tobi era de um marrom da cor da sujeira da rua. Tinha as pernas e o rabo curtos que lhe davam um jeito de andar diferente e, ao mesmo tempo, simpático. Tinha os olhos grandes e da cor do caramelo. A expressão era de um cão que já tinha passado por diversas situações, mas que lutara e sobrevivera às ruas da cidade. Agora estava ali, no pátio da minha casa, como se sempre vivesse naquele lugar.
Nos primeiros dias, para garantir a vaga em minha casa, se comportou como um lorde. Nunca ultrapassava os degraus da escada e esperava ansioso pelos ossos que lhe eram oferecidos após as refeições. Atendia ao chamado, levantando as orelhas, abanando o rabo e dando latidos felizes. Esbanjava simpatia o danado!
À medida que os dias foram passando, até o carteiro se acostumou com o latido forte de Tobi no quintal, fazendo-se de dono do território. Defendia a casa com ares de quem dava as ordens por ali. Já tinha se acostumado comigo e minha esposa e nos reconhecia quando apontávamos na esquina. Quando chegavam os estranhos, armava-se de cão de guarda e até parecia feroz. Era, na verdade, um fracote metido a valentão. Tobi era aquele tipo de amigo que vai conquistando o coração da gente com o passar do tempo e, de uma hora para outra, parece fazer parte da sua vida desde sempre.
Depois de um ano, Tobi já era da família. Corria solto pelo quintal, tinha uma casinha só para ele, um pote com água e outro com ração. Passava os dias escolhendo os melhores lugares para descansar ou enterrar os ossos. Geralmente, ficava perto do portão, de onde podia observar o movimento da rua que um dia foi sua morada.
Em uma tarde agitada de dezembro, quando havia a correria de Natal, Tobi passou pelo portão que estava entreaberto, latindo como um louco atrás do caminhão do lixo. Os homens da empresa corriam para pegar os sacos de lixo nas calçadas a fim de jogá-los para dentro do coletor. Ninguém viu quando Tobi se atravessou na frente dos pneus. Ouviu-se apenas o som estridente da freada e um ganido alto de dor. Ninguém parou para socorrer o meu cão que conseguiu voltar para casa, arrastando uma das patas traseiras.
Quando o encontramos, estava quase morto. Os olhos pediam ajuda e o corpo já nem se mexia. Levamos, às pressas, Tobi a uma clínica veterinária e, na sala de espera, os minutos tornaram-se horas até que o médico veterinário nos deu a notícia que tanto queríamos:
- O cachorrinho de vocês é forte! Ficará bem, mas os movimentos ficarão prejudicados. Talvez vocês tenham que colocar um aparelho para que ele possa andar. Vamos aguardar por alguns meses até que melhore de vez.
Foi uma festa a volta de Tobi para casa. Minha esposa e eu cuidamos para que ele ficasse bem e se recuperasse o mais rápido possível. Somente o tempo faria com que nosso cãozinho voltasse a andar e a ser o mesmo de antes. Às vezes, considerávamos um milagre ele ter escapado com vida do atropelamento.
Dois meses se passaram e os movimentos de Tobi ainda eram poucos. Resolvemos ajudá-lo e adaptamos um aparelho com rodas na parte traseira para que ele voltasse a andar sozinho e para que tivesse mais independência. E foi o que aconteceu. Tobi, aos poucos, voltou a ter sua vida normal. Andava pelo pátio com a ajuda das rodas. Voltou a latir para os transeuntes e morria de medo quando ouvia o motor de caminhões, principalmente o da empresa da coleta de lixo.
Se antes Tobi tinha um caminhar com um gingado diferente, agora era ainda mais. Passou a ser conhecido por todos os moradores da rua como o cão que tinha rodas e isso tirava dele a fama de mal. Foram anos usando o aparelho até tornar-se um cão idoso e cheio de bardas. Na verdade, foi meu cão de estimação antes da chegada dos meus filhos. Agora, pertence a todos, como se nada de ruim tivesse acontecido a ele. Tobi era fiel, amigo, companheiro e brincalhão. Com rodinhas e tudo, era o cachorrinho mais feliz do mundo e tudo graças ao seu jeito simpático de olhar e conquistar as pessoas. Que bom que ele me encontrou naquele dia!
Luciane Mari Deschamps