Campo do Cantúsio
Eu, meu filho Luciano e meu irmão Leonilson, voltávamos de São Paulo e já estávamos entrando no Parque Industrial, não muito longe de nossa casa, quando o meu irmão Leonilson, que dirigia o carro me perguntou: ”Onde ficava o campo do Cantúsio?...”.
Então eu lhe disse que o campo onde o Cantúsio mandava suas partidas de futebol, no tempo da Várzea de Campinas, ficava ali onde estávamos passando e que há muitos anos é a Escola Parque Prof. Vicente Rao, onde meu filho Luciano estudou, e a Associação dos Amigos do Parque Industrial, naquela quadra.
Mas aquele local tem muita história. E se alguém como eu não se colocar a escrever alguma coisa tudo aquilo irá se perder. Por que os que viveram naquela época, a maioria, já foi ter com Deus. E aqueles da minha época, creio que poucos poderão se lembrar com detalhes daquelas tardes de domingo, com muito futebol.
Mas vamos a um dia glorioso para os Cantúsio e para todos os que participaram dele.
Dia 1º de maio de 1943. Lembro-me bem daquele dia, pois eu morava em frente ao Curtume Cantúsio, na Rua Carlos de Campos 960. De manhã o Curtume Cantúsio oferecia aos seus funcionários e convidados um grande churrasco com muita carne e chope. E a tarde uma partida de futebol que o Senhor José Cantúsio contratava. Geralmente eram boas equipes de fora de Campinas para a comemoração do dia do Trabalho. Eram sempre equipes fortes, quase profissionais, pois a equipe do Cantúsio era muito boa.
Cabe uma explicação breve. Naquela época as equipes de futebol do interior eram divididas entre as amadoras (em Campinas, Guarani e Ponte Preta, por ex.) e as da Várzea (o Cantúsio, por ex.). As equipes da capital eram divididas em amadoras (como o Canto do Ipiranga, por ex.) e profissionais (como Palmeiras, Corinthians, Ipiranga, Juventus, etc.).
Então, nessa tarde quem veio enfrentar o Cantúsio foi o Canto do Ipiranga, da capital paulista. Um dos melhores times da fabulosa Várzea paulistana.
Era comum as equipes atuarem com seus 1º e 2º quadros. O 2º quadro do Cantúsio era quase imbatível. Mas vamos aos detalhes das partidas.
Na primeira partida, dos 2º quadros o Cantúsio B venceu por 4 x 0 o Canto do Ipiranga B. A equipe do Cantúsio B formou com: Moca, Zeca Pires e Durval; Xarope, Nélson e Mário Pires; Angelim Mingoto, Iau, Meneguette, Vicente e Santim Boscolo. Os jogadores do Canto do Ipiranga B não foi possível tirar os nomes.
Na partida principal, o Cantúsio venceu também por 4 x 0 a equipe do Canto do Ipiranga principal. Essa equipe, por sinal segundo alguns disseram, tinha vindo com alguns jogadores mais conhecidos. O zagueiro Duílio e o atacante Plácido, que estariam em atividade no Campeonato Paulista, e outros que jogariam na equipe de aspirantes todos do C. A. Ipiranga, da Capital.
A equipe A do Cantúsio formou com Armando Sanssana, Toninho Pires e Angelim Rossi; Mário Goiaba, Tide e Lico Semedo; Vilela, Quizinho Pires, Hugo, Augustinho e Inácio.
Aquele foi um dia de muitas glorias para o Curtume Cantúsio que era orientado pelo Senhor Vitorino Fornier.
Realmente o campo do Cantúsio viveu um dia para ficar na saudade.
Quando as equipes já estavam em campo, a bola foi trazida de avião que a jogou no meio do campo. O avião era do Curtume. Como muitos da época era um avião pequeno, pilotado pelo Mário Piloto, funcionário do Curtume. O Curtume Cantúsio muito colaborou com esforço de guerra para ajudar os aliados.
Esse esforço deveu-se muito à dedicação dos seus funcionários que trabalhavam até 12 horas por dia para suprir o mercado de sola, afim de equipar os soldados aliados que muito em breve sairiam vencedores da Segunda Grande Guerra, trazendo a Paz ao Mundo.