O guerreiro e o alquebrado (Crônica de um guerreiro)
Um guerreiro altivo, brioso, intrépido, no auge da sua garbosidade, caminhava por uma erma vereda. O sol lhe fustigava a fronte, mas seu espírito mantinha a lucidez e seus passos eram seguros e confiantes.
Em um ponto do caminho encontrou, estatelado, indubitavelmente alquebrado, exangue, pois sem forças para soerguer-se, levantando-se por si mesmo, um guerreiro da outra facção.
Ele prostrou-se, genuflexo, ao lado daquele corpo inerte. Percebeu que respirava. Levantou-se. Ficou, por um átimo de tempo, a divagar, a cogitar sobre como proceder. Até levou a mão à espada, para traspassá-la no inimigo, porém recuou do intento. Lembrou que uma vez ouviu um sábio que lhe disse, nesses termos:
- Esses não são nossos inimigos! São apenas meio estouvados, estabanados, imprudentes, e quase sempre não sabem o que estão fazendo. Que caem no caminho e neles tropeçamos. O que temos que fazer é ajudá-los a se levantar. E dar-lhes as mãos para que, arrimados uns nos outros, possamos seguir em frente e travarmos a verdadeira batalha. A batalha contra os nossos preconceitos, nossa indolência, nossa insensibilidade, nossa arrogância, nosso vão orgulho.
Então, valendo-se da sua força, levantou o outro. Esse o olhou, de soslaio. Estarrecido, espantado.
O guerreiro retribuiu o olhar, porém com um sorriso, demonstrando compaixão e acima de tudo, ternura. Um afeto brando, pois ainda não estava afeito a grandes efusões de sentimento. Mas era um começo.
Disse para aquele espírito debilitado fisicamente, enquanto lhe amparava:
- Vamos, meu amigo! Arrima-te em mim! Anima-te! Vamos seguir em frente. Temos uma nova batalha a travar. Vamos travá-la juntos.
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(Crônicas)