PROMESSAS DE ANO NOVO
Por Vicentônio Silva
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1 – Sair do cheque especial;
2 – Parar de tomar refrigerante;
3 – Evitar chocolate;
4 – Ingerir moderadamente açúcar, sal e gorduras de todas as espécies e lanches;
5 – Amar uma só mulher;
6 – Cultivar paixão única;
7 – Dormir cedo e acordar cedo;
8 – Falar somente a verdade;
9 – Não viajar;
10 – Não comer fora de casa;
11 – Não comprar livros;
12 – Não gastar mais do que meia hora do dia lendo Literatura;
13 – Aplicar menos de quinze minutos da primeira parte da manhã em História, Sociologia, Filosofia, Antropologia e Psicanálise;
14 – Frequentar aulas de natação, de música e de culinária;
15 – Economizar dinheiro ao mesmo tempo em que o ganho;
16 – Transformar-me num homem extremamente conservador, sério e objetivo;
17 – Parar de roer unhas;
18 – Descobrir as diferenças entre os vinhos, a importância de Mario de Andrade na Literatura e no movimento modernista, por que Clovis Bevilaqua caiu no esquecimento se admirava incomensuravelmente as mulheres e tentou alçá-las à igualdade dos homens ainda no século XIX, lutando pela paridade entre filhos adotivos e biológicos, concebidos dentro ou fora do casamento;
19 – Criar ódios, rancores e mágoas pela Literatura;
20 – Aprender, com homens de verdade, a conquistar mulheres já que os métodos de flores, chocolates, poesias, músicas românticas e cavalheirismos encantam apenas as octogenárias e servem de piada às mais jovens;
21 – Assimilar as técnicas da panqueca e do filé de frango à parmeggiana;
22 – Comprar um condicionador de ar;
23 – Ouvir menos ópera, Altemar Dutra e Frank Sinatra;
24 – Compreender como a colheitadeira separa o milho da espiga;
25 – Esquecer metas de produção científica;
26 – Caminhar aos fins de tarde naquele parque de Campo Mourão (PR);
27 – Mandar para a reciclagem as coleções de Machado de Assis, Eça de Queirós, Marcel Proust, Josué Montello, Autran Dourado, Moacyr Scliar, Josué Guimarães, Fernando Pessoa, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Rubem Alves e toda a prateleira erótica;
28 – Lavar o carro todos os sábados;
29 – Tornar-me menos recluso e mais sociável, participando de mais churrascos com música sertaneja ao fundo, mais bailes de engraçados cujos freqüentadores se julgam bon-vivants parisienses, mais comes e bebes de falsários provenientes de inúmeras denominações religiosas;
30 – Aguardar pacientemente o caixa do banco colocar em dia a fofoca com a amiga depois de passarem o fim de semana juntos;
31 – Aprender a pescar;
32 – Comprar botas, cinto, calças, camisa, fivelona e chapéu de vaqueiro;
33 – Comparecer a todos os rodeios da região;
34 – Barbear-me diariamente;
35 – Escrever um livro de contos ou de ensaios literários;
36 – Comprar ações de bancos, de empresas de informática e de construtoras;
37 – Aprender etiqueta, a comer com seis garfos, seis facas, seis colheres, oito pratos e sete taças;
38 – Descobrir as maneiras adequadas e esteticamente aceitáveis de combinar gravata, paletó e camisa;
39 – Comprar uma motocicleta e seguir o trajeto de casa até a última cidade do Rio Grande do Norte, percorrendo o país pelo litoral e parando a cada possibilidade para aproveitar o melhor do dia, das pessoas, das comidas e das bebidas;
40 – Ignorar o desperdício de tempo nos bancos;
41 – Dominar as técnicas de informática e os artifícios de computador de maneira que consiga gravar discos de áudio e de vídeo, salvar arquivos Word e utilizar brilhantemente o excel, que substituirá a calculadora arcaica e economizará semanas de vida;
42 – Comprar pão e preparar o café da manhã;
43 – Agir falsamente com os que acreditam piamente em minha ingenuidade ou ignorância a respeito de assuntos banais;
44 – Alongar diariamente depois de levantar da cama e antes de dormir a fim de evitar dores prolongadas nas costas;
45 – Falar a verdade o tempo inteiro e insistir para que minha filha, quase sempre segue o que ordeno, também fale a verdade vinte e quatro horas ao dia;
46 – Manter meu guarda-roupas diariamente organizado;
47 – Encher a cara de cachaça;
48 – Virar um recordista olímpico;
49 – Nadar em dinheiro;
50 – Comer peixe cheio de espinhas três vezes ao mês.
*Publicado originalmente na coluna Ficções, caderno Tem!, do Oeste Notícias (Presidente Prudente – SP) de 28 de dezembro de 2012.