O QUARTO DA BAGUNÇA
Na minha época de criança tinha o “quarto da bagunça”, que era um quarto onde tudo era acomodado: brinquedos, jogos, bonecas, bolas e todo o tipo de bugiganga. Era o depósito de tudo que não podia estar nos lugares normais. No geral passávamos a maior parte do dia neste quarto, que também hospedava os tios quando eles brigavam em casa com as tias e, também, os que levavam suas namoradas para apresentar à família.
Quando, na família, havia meninos e meninas, o quarto da bagunça virava o primeiro quarto do menino. E foi o que aconteceu lá na minha casa. Quando fiz sete anos, o quarto da bagunça passou a ser o meu quarto. Então muitas coisas foram para a reciclagem e para o lixo. Agora o antigo quarto da bagunça tinha um morador, alguém que não ia dividir seu espaço com bonecas riscadas com caneta Bic, mesmo aquelas rabiscadas pelo próprio e os tios que ficassem na sala tocando seus toca-discos para todos ouvirem.
Foi no quarto da bagunça que eu cresci e comecei a escrever meus primeiros versos, a compor algumas músicas, a rimar verbos e crescer dentro da gramática e da literatura. Aprendi, observando as coisas, a perceber que a vida era algo muito maior do que as lições da sala de aula, percebi que meus pais carregavam os mapas e que queriam que eu descobrisse onde estava o tesouro.
Depois de anos, o quarto da bagunça foi sendo modificado e algumas peças mudadas de lugar. Penso que precisamos, de vez em quando, fazer uma limpeza no quarto e acomodar as coisas de acordo com a sua natureza.
Nesse final de ano proponho uma faxina geral, uma limpeza que tenha como objetivo separar o lixo, identificar os resíduos e depositá-los em recipientes próprios. Melhor ainda, proponho que todos nós façamos uma reflexão sobre o quanto temos dificultado a vida do planeta e, desde então, iniciar um ato de reciclagem. E nunca se esqueça, nossa vida faz parte desse todo que é o equilíbrio e para ter um planeta feliz é preciso que sejamos felizes.
Ricardo Mezavila