Edir Macedo....Nada a Perder
Edir Macedo... Nada a Perder
Jorge Linhaça
Interessante o título do novo mega best-seller da literatura brasileira.
Segundo Edir Macedo ele não tem nada a perder já que seu maior patrimônio é a Fé no evangelho. Claro que não posso duvidar do que se passe em seu coração, e pode ser que ele sinta-se mesmo dessa maneira.
Mas, “Nada a perder” soa um tanto quanto falso levando-se em conta os multimilionários negócios envolvendo a gigante Igreja Universal. Com milhões de fiéis espalhados por 182 países, rede de televisão própria, jornais, portais, rádios e etc, fica difícil de crer que não se tenha “nada a perder”.
Por outro lado, a venda, no Brasil, de 350.000 mil exemplares do primeiro volume de sua trilogia biográfica, em pouco mais de 60 dias (segundo dados de novembro de 2012) pode em grande parte ser creditada justamente aos adeptos de sua religião, sequiosos por conhecer mais a respeito do líder carismático.
Não apenas Edir, como líderes de outras denominações descobriram como criar um nicho de leitores e alavancar a venda de seus títulos.
Claro que seria leviano acreditar que apenas seguidores da universal adquirem os livros de Edir Macedo, muitos curiosos ou sequiosos de encontrar falhas gritantes em sua biografia devem entrar no computo geral das vendas, mas por certo somam apenas o que poderíamos considerar como “efeito colateral” da estratégia de lançamento.
Na outra ponta da corda, encontramos centenas, talvez milhares de escritores que comem o pão que o diabo amassou para publicar seus livros e depois não conseguem distribuí-los pelas livrarias.
Poderíamos então, brincando com as palavras, dizer que estes últimos poderiam lançar um título coletivo chamado “tudo a perder” já que arcam com os custos de impressão, editoração e distribuição de seus títulos, usando de suas parcas economias e raramente obtendo algum tipo de retorno financeiro.
Nada contra o livro do Edir Macedo, mas se há algo que podemos aprender mesmo sem lê-lo é que antes de lançar-se na aventura da publicação de um livro, é necessário criar uma clientela para a sua edição.
E para ser sincero, criar tal clientela envolve antes de tudo encontrar um catalizador para o lançamento, seja fundar uma igreja com milhares de adeptos, seja ter um programa na televisão, ou quem sabe, estar envolvido em algum tipo de escândalo que leve o público leitor a criar uma curiosidade sobre a figura do autor.
Claro que ser um professor universitário e escrever sobre os conteúdos de sua matéria também ajudam muito a vender seus livros, mormente se eles forem enquadrados dentro do conteúdo programático da disciplina lecionada. Mas daí a se esperar um best-seller é viajar um pouco na maionese.
Enfim, talvez uma ex-prostituta que crie uma igreja evangélica cujos cultos sejam levados na pegada de um grupo de pagode gospel, recém-convertido e que se dissemine por várias localidades, pontuada por um ou outro pequeno escândalo, seja uma maneira de abrir as portas do mercado editorial para best-sellers inalcançáveis.
O título poderia ser “Memórias de uma Jesebel a serviço do Senhor”. Na compra do livro você leva um DVD com os louvores do grupo de pagode gravados em um grande culto em um ginásio ou estádio de futebol.
Aos demais escritores resta apenas ir pisando cardos e espinhos ao longo do caminho, torcendo para que , por algum motivo , o boca a boca consiga leva-los ao patamar de “surpresa editorial”.
Salvador, 27/12/2012.