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FELIZ ANO NOVO!
Deu com a garrafa de vinho, sobre a mesinha: "Juro, vou beber ela inteirinha!". A turma tinha acabado de sair. A sala numa desordem só, tarefa pra ela sozinha, no dia seguinte. Que réveillon! Maldita ideia aquela de chamar o pessoal do escritório para o Ano Novo em seu lar doce lar... Mas, fazer o quê? Queria um pretexto pra atrair o João Batista, do RH, em quem estava totalmente interessada.
Teve a ideia: contratou os serviços de Dona Vanda, convidou os amigos. Comida, bebida, decoração, tudo do bom e do melhor. A turma, é claro, adorou. Festa de graça, quem não quer? Comprou um longo lindérrimo, branco, bordado nas alças... Penteado, maquiagem... Uau!
Agora se maldizia: o pilantra do João, acompanhado! E de quem? Da Célia, aquela chata do Cadastro! Que ódio! Os dois trocando beijinhos, a turma aplaudindo, brindando ao namoro dos cretinos com o champagne que ela tinha comprado! Desaforo! Fim de pagode, lógico! Queria mais é que todo mundo se mandasse. Mas a farra rendeu até tarde... Ou melhor, até cedo! (do dia primeiro). O João Batista agarrado com a Célia no maior .... Ah, não dava!
Por fim, lá se foram lépidos e lampeiros. E ela mal... Precisando de uma força. Por isso ia tomar um porre! Tá certo que não bebia nada, nada... Mas, e daí?! Um brinde à raiva! Pegou o saca-rolhas na gaveta. Nunca tinha usado um, mas e daí também? Rompeu o lacre da garrafa, enroscou a ponta do abridor e foi torcendo. Uai! Até que era facinho, usar um saca-rolhas! O abridor parecia um boneco de braços abertos. Torceu ao contrário e os “braços” do boneco prenderam a rolha... Puxou, abriu!
Ih! A rolha se agarrou à haste rosqueada! E aí? Sem tampa, o vinho ia "evaporar", perder o gosto, o cheiro. E a rolha agarrada de um jeito que nada soltava! Rodou pra cá, rodou pra lá... Será que tinha feito alguma coisa errada? Que droga! Viu no Google um passo a passo de como usar um saca-rolhas modelo borboleta. E pelo o que leu, não tinha erro. Mas a rolha ali, toda entalada, não saía nem pra cima, nem pra baixo. Que estresse! Tentativas vãs, pegou uma faquinha. Foi cortando a rolha até aparar tudo que tinha sobrado para fora.
Que encrenca! A coisa não funcionava. Tentou empurrar pelo lado de dentro. Joia! Começou a ceder. Suor, força e... Puf! A rolha pulou! Pegou o cilindro de cortiça no chão e o examinou: todo esfarelado nas beiradas, com um buraco no meio. Pegou uns farelinhos de cortiça e fez uma espécie de enxerto, trabalho delicado, demorado, minucioso. Que canseira! Pôs a rolha no bico da garrafa e deu um último apertão forçando-a para baixo...
Encaixou. O vinho estava salvo. Já podia começar a bebedeira, mas agora a garrafa não abria. A rolha tinha inchado? "Né possível!". E cadê paciência pra mais uma mega-operação-saca-rolhas? Ia era dormir! Vinho na geladeira, olhou a sala-caos e correu pra cama. Pensava com seus botões: quem não nasceu pra bebum nunca vai entender de garrafas! E pra matar a raiva do João Batista e afogar as mágoas do fracassado réveillon, apelou mesmo prum Rivotril...