PARIS NUNCA PERDE O CHARME

Paris nunca perde o charme nem jamais esquece de ser elegante, não tem vestígios de vulgaridade, é femme fatale em todos os momentos, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, incansável em sua beleza. Fatal, no entanto, no melhor sentido que se pode absorver desse termo, pois é suavemente sedutora, esbanja ternura, é o rosto sorridente do fascínio. Mesmo no tranquilo feriado do dia 26/12/2012, do alto de sua reconhecida imponência, essa inolvidável cidade brilha, faz isso de forma intensa e quase luxuriante, é provocante em todas as suas esquinas e nem precisa se esforçar muito para chamar a atenção.

Perambulando sem compromisso pelos recantos de Paris simplesmente para espairecer, vejo-me seduzido ainda mais pelos encantos de sua surpreendente e, claro, aparente tranquilidade, pelo menos nas circunvizinhanças da rua onde fica o apartamento em que estamos. Poucos carros circulam em velocidade bem acima do usual, um número mínimo de ciclistas se exibe no trânsito calmo, há pessoas levando baguetes debaixo dos braços, numa tabacaria muitos homens fumam sorridentes, aspirando felizes a fumaça mortal, conversando em voz alta, emporcalhando o chão com as piúbas jogadas e poluindo o ar que respiramos.

Embora o comércio seja fechado há boulangeries, cafeterias, restaurantes japoneses, asiáticos e chineses de portas abertas para um público evidentemente diminuto. Lojinhas de pequeno porte, onde provavelmente os empregados são membros da família, também ousaram funcionar, os donos à frente, as luzes acesas com alarde, um ou dois clientes olhando, perguntando, às vezes comprando, o tempo calado na sua andança sonolenta e quieta. Casais idosos, usando vistosos casacos, sobretudos e cachecóis, um ou outro cobrindo as mãos com luvas, braços dados, caminhavam a passos lentos, em conversas sussurradas, amores anciãos consolidados. As vitrines das lojas fechadas, amplamente iluminadas quando o ocaso já fechava os portões da tarde e abria as comportas do anoitecer, mostravam seus artigos de maneira acintosa, sem singeleza, alardeantes. A vida prosseguia malgrado pouca coisa funcionasse nessa imensa metrópole cosmopolita.

Uma rápida passagem pelas proximidades da Torre Eiffel, nessa época pródiga em evidenciar-se numa iluminação ainda mais pungente, empolgante e farta, revelou-se de bom alvitre dado o movimento de turistas do mundo inteiro circulando ansiosos, conversadores, alegres e barulhentos. Descobrimos a existência da feirinha de Natal ali perto, fomos até lá, nos misturamos ao povaréu, aos vendedores ambulantes de bugigangas parisienses que, vez em quando, eram abordados por policiais de bicicleta e disparavam na carreira fugindo deles, foi impossível resistir às fotografias ao ver tanta gente clicando suas máquinas e explodindo seus flashes, fizemos poses para as fotos, rimos enquanto as horas se iam, nos abraçamos e nos beijamos, eu e Ana, porque Paris exulta no romantismo, transpira romance, vive um conto de fadas que nunca termina.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 26/12/2012
Reeditado em 27/12/2012
Código do texto: T4054472
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