Um Fato Incomum
Passei por aquelas ruas que, outrora fumegantes, encontravam-se, agora, inóspitas. Sorri, olhei para aqueles banquinhos agora vazios e, por um pequeno instante, fechei os olhos. Soube, por mim mesma, que naquele momento estava sozinha.
Fiquei imaginando quantas pessoas ali se sentaram, quantos beijos ali foram roubados, quantas lágrimas ali rolaram. Fiquei imaginando a angústia dos que se despediam, o medo de quem partia, a ansiedade de quem esperava e a alegria de quem chegava. Fiquei imaginando quantos pessoas ali se viram pela primeira ou, quem sabe, pela última vez. Quantos amores foram, ali, descobertos. E quantos amores foram, ali, deixados.
Fiquei imaginando como seria aquela fumaça que, para uns se distanciava e, para outros, se aproximava. E como seriam as pessoas andando por ali. Ansiosas, desorientadas. Todas com seus ingressos nas mãos. Uns entrando, outros saindo para, quem sabe, uma outra vida.
E os barulhos de canos de descarga, de sacolas se debatendo, de
pessoas apressadas, estressadas, gritando de um lado, xingando de outro, fizeram, instintivamente, meus olhos se abrirem. Por um instante, senti-me desnorteada, mas logo voltei à realidade. Olhei para as pessoas que passavam por perto, mas nenhuma delas sequer notou aquelas ruas. Nenhuma delas sequer notou aqueles bancos. E então sorri pela última vez e continuei a minha longa caminhada.
(Em julho de 2012)