Bíblia: O Livro Sagrado que eu não levo a sério.
Estava eu sentada em meu computador, baixando músicas como de costume, até que meu pai chegou, sentou em minha cama e resolveu puxar assunto. Há alguns meses meus pais já haviam conversado comigo inúmeras vezes sobre religião e meu ateísmo já havia sido exposto.
Após ser interrompida por meu pai, passamos meia hora conversando sobre religião, o cristianismo em especial. Meu pai sempre foi curioso, e como eu já esperava me disse que possuía pouca fé. Começamos a falar sobre a Bíblia, apontei erros graves e contradições que esse livro “sagrado” possui. Meu pai, apesar de ter pouca fé, crê em alguma forma de deus e ainda dá certo crédito ao cristianismo.
- Acho que a Bíblia possui tantos erros porque foi escrita por homens.
- Concordo, foi escrita por homens, mas se fosse um livro sagrado, inspirado por um deus perfeito, erros e absurdos não seriam encontrados.
- Pode ser que o Deus seja perfeito, mas os homens não são.
- Então de qualquer forma a Bíblia não seria um livro sagrado, pois não seria de total inspiração divina, não seria apenas o que Deus disse. E por que as partes bonitas da Bíblia os cristãos aceitam e dizem que são verdadeiras e inspiradas por Deus enquanto que as partes em que eles discordam e acham um absurdo, eles ignoram, dizem que foi erro de tradução, ou que essa parte não foi inspirada por Deus?
- É verdade, mas eles nunca vão achar que Deus escreveu as partes de crueldade, porque sempre dizem que Deus é benevolente.
- Sim, mas se seguem o cristianismo, deveriam crer que a Bíblia é um livro sagrado, inspirado por Deus, que possui a verdade sobre o mundo e blá blá blá blá blá, não é? Fora que eles deveriam crer que Deus é bom a partir de conclusões que eles mesmos chegaram lendo a Bíblia e etc, e não pelo que os outros dizem.
- É... – Ele disse pensativo.
- Não são eles hipócritas se não acreditam nisso e se dizem cristãos?
- Exatamente, é por isso que eu quase não vou à missa e quando vou não comungo, seria meio hipócrita da minha parte se eu não acredito em todas essas coisas. – Concordei com a cabeça.
De repente minha mãe entrou no quarto e se interessou pelo assunto.
- Mas filha, a Bíblia é um livro sagrado sim, você precisa ter fé!
Achei engraçado, minha mãe se diz católica, quase nunca vai à missa e praticamente não lê a Bíblia, porém, como a maioria dos cristãos tem a necessidade de dizer que acredita em alguma coisa, mesmo que não acredite tanto assim.
- Mãe, pra que eu vou praticar uma religião na qual não acredito, e mesmo que acreditasse que fosse verdadeira em sua essência (O deus judaico-cristão existir, Jesus ser filho de Deus e etc), não concordo com as alegações sobre diversos assuntos?
- Filha, as coisas têm partes boas e partes ruins, você tem que aprender a usar as partes boas na sua vida.
- Eu faço coisas boas e não preciso que uma religião me diga que tenho que fazê-las. Você acha que a Bíblia serve de guia moral para alguém? Você acredita que tudo que está escrito nela é verdade e que ela é um livro sagrado?
- Claro que sim, porque foi inspirada por Deus.
- Então você concorda que homossexuais são aberrações, que mulheres devem ser submissas aos seus maridos, que escravos devem ser submissos aos senhores, que a Terra tem 6.000 anos e etc?
- Tudo isso foi escrito em uma época que as pessoas pensavam dessa forma.
- Faria sentido se você não achasse que esse livro é um livro sagrado e inspirado por Deus, um ser perfeito, que transcende o tempo.
- Mas não é pra ninguém levar tão a serio assim... Não é pra você levar a Bíblia a serio, você tem que ver o que presta.
Nessa última frase tudo ficou claro para mim. É engraçado quando cristãos vêm encher a boca para defender a Bíblia como livro sagrado, muitas vezes é por ignorância, algumas por hipocrisia (como foi com a minha mãe), porque os que concordam totalmente com os ensinamentos desse livro têm sérios problemas de caráter e bom senso.
Como cerca de 2 bilhões de pessoas são cristãs no mundo, prefiro acreditar que a maioria delas são hipócritas ou ignorantes quando o assunto é Bíblia do que que elas apresentam um caráter muito duvidoso. É uma das poucas vezes em que a hipocrisia e a ignorância me parecem entre as melhores opções para uma pessoa que quer permanecer seguindo uma filosofia, ideologia, doutrina ou seja lá o que for.
Mas se você quer a melhor das melhores opções, a mais sincera e menos vergonhosa, vou me atrever a lhe dar um conselho: Não defenda coisas nas quais você não acredita só para manter aparências. Haja de forma coerente, se não acredita não siga nem tente convencer as pessoas com argumentos que nem a você mesmo convencem.
Essa foi a última tentativa de conversão realizada pelos meus pais, até que finalmente desistiram. Até hoje conversamos sobre religião, mas nenhum deles mais se atreve a me cobrar algum tipo de postura religiosa e fé que eles mesmos não possuem.