INFELIZMENTE, ALGUNS DELES JÁ PARTIRAM...

INFELIZMENTE, ALGUNS DELES JÁ PARTIRAM...

Apesar de afeito á literatura não costumava ler com regularidade livros com poesias. Mas, há tempos passados acompanhei e colecionei a edição de aproximadamente vinte e dois livros de Literatura Comentada sobre a obra de alguns dos melhores escritores brasileiros, publicados pela Nova Cultural. Entre eles dois me chamou a atenção, sobremaneira, pela qualidade de suas poesias.

Mário Quintana e Manuel Bandeira. O primeiro, gaucho, caracterizou sua poesia pela simplicidade e pela alusão ao cotidiano; o segundo pernambucano. Era recorrente nos escritos dele o relevo, o destaque que dava aos temas referentes à morte. No poema Evocação do Recife Bandeira recordou com saudades as brincadeiras *”do tempo de eu menino” e da figura de seu avô, já falecido naquela oportunidade.

Igualmente, em outro, recordou a festa de São João do tempo de criança na qual as pessoas de sua família e os serviçais daquele tempo dela participaram, e, agora, estavam “todos deitados, dormindo, profundamente”, para sempre...

Em uma das estrofes do poema Evocação... Bandeira afirma, ainda, ter visto lá para as bandas do sertãzinho de Caxangá uma moça nuinha tomando banho no rio Capibaribe; foi seu primeiro alumbramento.

Contrastando o escritor pernambucano, embora em analogia com este, meu primeiro alumbramento na vida foi o evento morte (estranho, hein?); lembro e fixou-se para sempre em minha lembrança a chegada de minha irmã Elizabeth irrompendo de porta a dentro anunciando, ofegante: - seu Edgar está morrendo!...

Os meus sete ou oitos anos de idade tinha já me dado uma pequena percepção da dramaticidade e da irreversibilidade do significado da palavra morte no meio em que convivia.

Mas mesmo assim o acontecimento foi bastante impactante a repercutir até hoje, pelo fato de ter acometido uma pessoa próxima e não tão velha. Edgar, pessoa de meia idade, vez ou outra frequentava a casa do meu pai e, em companhia dele, tomava muitas e todas as que mais fossem...

“Foi a primeira vez que a morte me perturbou profundamente. Antes disso ela andava em meu espírito associada, sempre, à ideia de decadência física.” (M. Bandeira)

Bandeira sintetizou e esclareceu magistralmente o porquê da inquietação que de mim se apossou após esse fato; a vida de vez em quando perde seu rito colorido natural para ingressar por alguns momentos no estágio cinzento de perplexidade, da interrogação e da comoção.

Acontecimentos e situações concretas que nos puseram diante do paradoxo e da incerteza do existir. De um lado, o despertar do poeta para o encanto sensual, sexual, que mais tarde o impulsionará para, em paralelo, gerar vidas. Do outro, o oposto: a realidade, a finitude, a morte, sem o respeito à cronologia do tempo e à idade; altiva, soberana, implacável...

Esses fatos me vieram à lembrança outro dia ao manusear antigas agendas da loja e rever nomes e endereços de velhos companheiros que a frequentaram e alguns deles, lamentavelmente, já partiram para o mundo etéreo da ponderação eterna; estão sob o jugo do criador: Severino Jaime, Ivaldo Paraíso, Elias Hazim, Elisio da Silveira Basto, Wladimir Calado, Carlos Sales e Hélio Caldas.

Recordo a memorável e emocionante sessão especial na qual este último, já bastante combalido, recebeu homenagem e se despediu da loja; e, logo depois, da vida... Cada um à sua maneira deu, de per si, seus préstimos para o progresso da 12 de Março.

O momento da aproximação das festas natalinas obriga a num preito de saudade reconhecer em meu nome e, me permitam, em nome de todos aqueles que compõem esta loja, a importância de cada um deles em nosso convívio maçônico.

Testemunhar e reverenciar o espírito deles, pelo exemplo de abnegação e desprendimento em favor da maçonaria é mais que necessário; nossas sinceras homenagens.

No ensejo pedimos ao grande arquiteto do universo: continue a zelar pelos sexagenários e os mais velhos desta loja e permita que eles cheguem ao final do ano de 2013 com vida gozando da instabilidade salutar (sic), comum àqueles que volitam e ingressaram nessa faixa de idade. Amém... Data: 23/12/2012

ANTONIO LUIZ DEFRANÇA FILHO – CIM: 191.699 e- mail:antoniofranca12@yahoo.com.br

ANTONIO FRANÇA
Enviado por ANTONIO FRANÇA em 26/12/2012
Reeditado em 23/04/2014
Código do texto: T4053329
Classificação de conteúdo: seguro