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“DE LUCA E EU”
Valdemiro Mendonça.
O poeta Escreverati De Luca me convidou para assistir o lançamento do livro “Antologia de ouro” mostrando o trabalho da escritora Regina Melo no palácio das Artes em Belo Horizonte, aliás, com produção da própria escritora e o dedinho do meu amigo De Luca. Como estaria na capital neste dia e me hospedei num hotel ali na Guaicuru... Nossa mãe, “hotel barulhento”, fico ali mais não, a noite inteira um entra e sai de hóspede chegando e partindo, engraçado: sem carregar malas e sempre casais, acho que me pareceu serem japoneses, as damas que estavam com os cavalheiros, pareciam sempre às mesmas, estranhíssimo.
Eu até já tinha “conversando com meus botões” me desculpado com madame Regina e De Luca, pois, estava bastante cansado, depois de viajar duzentos e trinta quilômetros: “distância da minha fazenda até Belo Horizonte”. Mas quando ia desfazer as malas vi o convite, pesei os prós e os contras, e ganhou o bom senso, ficar ali naquele barulho de cama sem lubrificação, era um inheco-inheco direto nos quartos dos hospedes que chegavam e saiam, eu pensei vou, assisto ao programa, revejo o meu amigo De Luca, e quando voltar isto aqui deverá estar mais calmo... Ledo engano, “estava pior quando voltei”.
Desci e nem retirei a minha Toyota do estacionamento, era perto. Peguei um taxi e em alguns minutos já estava no local do show. Um pouco envergonhado por entrar atrasado, eu fique atrás das fileiras, num local bem discreto e pensando, amanhã telefono para o De Luca e explico, ele me conhece bem, sabe que sou expansivo e falastrão e só vai acreditar que vim se eu der detalhes do evento. Neste instante alguém me cutuca o ombro direito e eu olhei para aquele lado, sacanagem do meu amigo poeta, brincadeira de mau gosto que fazíamos quando crianças, ficar de um lado da pessoa e cutucar no outro ombro, Ouvi dele o riso e as palavras: peguei-te cavaquinho! Retruquei: (fio das unhas, cê num esqueceu dessi trem não?) Ele riu com gosto e trocamos um abraço sem apertar muito, ele já conhece meu jeitão caipira, homem abraço só de longe, mulher eu agarro mesmo.
Depois das trocas de figurinhas, esperamos o evento acabar e após cumprimentar a bela Regina, saímos para por as conversas em dia com uma esticada na boate playboy e enquanto ele tomava um shop eu tomei três doses de cachaça, muito boa por sinal, até pedi para ver a marca e aí vi que era fabricada na minha fazenda. Ri do acontecido e expliquei o fato para o poeta que aproveitou para falar do seu desejo de conhecer minha fazenda. Prontifiquei-me a levá-lo comigo assim que resolvesse alguns assuntos na cidade, coisa de pouca monta, era só a compra de dezesseis tratores e mais duas colheitadeiras, máquinas novas para a fazenda e partiríamos. Falei com ele do barulho que tinha no hotel e ele riu às bandeiras despregadas... Não sei de que? Mas ele não explicou e me deixou com a pulga atrás da orelha, só que foi comigo ao tal hotel, e enquanto eu pegava a caminhonete ele próprio pagou a conta e após recuperar minha mala fomos para seu apartamento no bairro Ouro Preto com vista para a Pampulha onde fiquei bem mais acomodado.
Fiz meus acertos e paguei a vista, não gosto de ficar devendo e voltei para minha fazenda tendo a companhia agradável do meu amigo desde os tempos do primário no grupo Dom Carloto em Caratinga, Ele estava curioso para saber sobre a fazenda, e eu disse: das minhas fazendas esta é menor, deve ter sete a oito mil alqueires mineiros, que é o dobro do alqueire paulista, são quarenta e oito mil e oitocentos metros quadrados “um alqueire” a medida é oficial, mas como estava mapeando novamente a propriedade eu não podia lhe dar a medida exata, aliás, nem eu sabia. Falei a guisa de maior explicação dentro da minha prática maneira de ser dando um perfil do tamanho, no meu apurado senso caipira; Olhe poeta, se for de jipe, com três dias dá para conhecer bem a área, agora a cavalo é bem mais de uma semana, pra ver quase tudo, tudo mesmo não dá, pois, tem as bibocas, tem grutas de difícil acesso e mais a reserva de mata atlântica que eu não gosto muito de deixar entrar visitas lá, questão de preservação ambiental que eu faço questão de manter sob minha vigilância.
Chagamos já à noite na fazenda e depois do banho nos reunimos na sala principal para degustar uma cachaça comendo torresmo e a linguiça frita feita pela minha cozinheira, a Genoveva Baritinova, “russa, mas desde dezoito anos radicada na fazenda” e quando eu ia para a Europa ela é que me acompanhava, pois apesar de arranhar um pouco de várias línguas, “o russo” sempre me tira do sério. Dormimos cedo e no outro dia enquanto eu realizava a máxima: “Os olhos do dono é que engorda o boi”, o poeta andava especulando e foi na casa do laticínio que ele ficou mais tempo, não estranhei: a doutora Norma, ”loura de um metro e oitenta, anca de novilha bem tratada era a chefe do setor”. Ela era tarada com poetas desavisado, se percebesse que o cara rimou uma palavra, ela atacava, como eu sabia da fama do meu amigo poeta, pegador, eu pensei a Norma deve ter lavado a porda com o meu amigo que estava com aquele sorrisinho de moleque desvirginado na cara, nem perguntei, adivinhei que o sacana tinha se dado bem.
No outro dia eu levantei-me às cinco horas da manhã e acordei De Luca que estrllou um pouco pra levantar e o motivo eu soube logo, com um sorrisinho de menina envergonhada, Norma saiu alisando os cabelos e eu pensei este meu amigo vai acabar engravidando esta aí e depois quero ver é pagar a pensão. Ele fingindo de boi sonso perguntou: pegou fogo onde? Eu respondi não pegou, mas tinha me esquecido de lhe dizer, está chegando hoje um grupo de dinamarqueses que pediu para conhecer o novo projeto da soja transgênica hidronética, criação do laboratório desta fazenda “A princesa do cerrado” que pelo visto já estava conhecida nos cinco continente e causando um furor com suas novas experiências. Fomos tomar leite ao pé da vaca e depois tomar o café reforçado da Genoveva e até tive de dar um ***(opcv)*** para o meu amigo, beliscou a bunda da cozinheira e ela lutava kung fu e apesar de gostar, acho que minha presença a inibiu e ela chegou a armar o dedo na sua direção na posição: “dedo agulha” e se eu não olho feio para ela, meu amigo nesta hora poderia estar sem olhos. Ele pediu desculpas, depois que lhe dei ***(opcv***) e ela aceitou.
Saímos para o campo já era sete horas e no pátio das juritis, encostou uma vã de onde desceram dois gringos e quatro gringas sorridentes e faladores. Foram nos apresentados pelo Jorge meu administrativo e interprete poliglota e o grupo pré-disposto a fazer amizade nos conquistou, logo estávamos à vontade com os chegados. Eles foram tomar café e De Luca e eu ficamos conversando enquanto os aguardava. Logo reapareceram e perguntaram ao Jorge se podiam ficar à vontade? Ele me olhou e como eu tinha entendido a pergunta fiz um sinal afirmativo sem me expressar com palavras para não dar a entender que sabia a língua, pois morei algum tempo em Copenhague e assimilei a linguagem local. O grupo e nós fomos para as cavalariças onde nos aguardava vários peões com cavalos já selados. Um boy trouxe o meu cavalo tordilho, o árabe puro sangue que só deixava o dono montar, perguntei ao De Luca se montava ainda, pois quando jovens costumava cavalgar éguas nossas montarias prediletas por motivos que declinarei de falar aqui.
De Luca disse ainda sou o bom, e perguntou tem aí uma eguinha? O chefe das cavalariças respondeu que não, mas tinham um cavalo fogoso que ainda não tinha sido castrado e De Luca disse pode ser, só vai trotar mesmo... “sacana”. Os gringos começaram a tirar as roupas e eu fiquei entre divertido e surpreso e Jorge me explicou que o pessoal tinham os mesmos costumes suíços de cavalgar em pelo e isto significava com toda a extensão da palavra. De Luca se assanhou e já ficou peladão e eu apesar de despir a camisa, continuei de calças índigo blues, embora também descalço seguindo o exemplo de todos. De Luca rindo da minha timidez perguntou: Ta com vergonha de mostrar o meia porção? Eu ri, não estava, mas preferia me manter mais sóbrio, ele retrucou, você não sabe como é gostoso sentar no cavalo em pelo e nu, os cabelinhos espetando a bunda é uma delicia... Achei meio excêntrico o gosto do poeta, mas ele é um homem moderno, não questionei, os gringos estavam à vontade e as gringas faziam questão de mostrar as bufanças para o lado da gente, umas bundas brancas cheia de sardas, mas até graciosas, pra quem gosta, o De Luca se assanhou e acabou tirando o chapéus da cabeça e tapando o gratificado como ele sempre se referia ao seu... Pois é, ao seu, trem de fazer filhote, credo, cada coisa para explicar que fico sem ação.
O pessoal percebendo o que acontecia, começaram a rir do meu amigo e as gringas encostaram seu animais bem ao lado dele e começaram a bolinar o poeta, acho que ele se descontrolou e cutucou a barriga do cavalo com os calcanhares e o bicho desembestou a correr, como se aquilo fosse um sinal o grupo entre gritos alegres tocaram suas montarias a galope atrás dele e eu tive de seguir também para não ficar fora da farra. Passamos pelo arroio suave e galopamos pela areia fina e branca do riacho do beija flor e aí a coisa engrossou, De Luca não conseguia controlar seu cavalo e uma das gringas tentando se aproximar do intrépido cavaleiro incitou seu animal a correr mais e ultrapassá-lo, conseguiu, mas sua montaria tomou as rédeas e desembestou por um matagal cheio de urtigas, os companheiros que não frearam as montarias, entraram também no matagal. De Luca finalmente conseguiu frear o seu cavalo e parou perto da trilha, eu fiz o mesmo e ouvimos os xingamentos das gringas, a que caiu entre as urtigas exclamou em inglês e De Luca traduziu para mim embora eu tenha entendido até bem: Nettle burned my ass. “Urtiga queimou minha bunda” e o sacana De Luca gritou obá, isto cru já é bom imagine assado?
Saíram de dentro do mato e se atiraram na água do riacho meu amigo poeta saltou junto e ajudou a esfregar a mulher mais atingida e também a mais bonitinha do grupo, eu fiz algo mais prático, sabia que nos meus alforjes pendurados na sela tinha vários apetrecho de sobrevivência, pois, às vezes gostava de me perder entre as serras da fazenda e ficar vivendo de caça até colocar meus pensamento em ordem. Lá tinha sabonetes e entreguei-os à elas que agradeceram e uma até mais esfuziante me beijou e tive de corresponder... “Embora preferisse as curvas de Genoveva”. Quando as mulheres e os gringos pararam de coçar, montamos e voltamos em direção à fazenda, satisfeitos de aventuras por aquele dia.
Quando nos aproximamos do haras um égua branca puro sangue que estava isolada esperando por uma monta dentro de um lote apenas demarcado com cerca de metro e meio de altura, viu o garanhão inteiro montado pelo poeta, virou a bundona para o lado dele e piscou a.. Pois é, piscou a coisa... Não, piscou a, xi enrolou “a perseguida” pronto é isto! O cavalo do poeta esticou uma encrenca que mais parecia uma mão de pilão e partiu, pulou a cerca subindo pelo menos três metros e De Luca gritou que nem um possesso de susto, o bichão estava com fome e pulou em cima da égua que apenas levantou o rabo mais um pouco e... Pois é, ele mergulhou a mão de pilão dentro da: é, puxa vida... Dentro da perseguida e ficou lá na boa, o poeta gritando disse: vou saltar, eu disse cuidado, se ele vir este seu bundão pelado ele pode querer experimentar algo diferente e cai na gargalhada, os gringos sem entender, mas também vendo o aperto do poeta rolavam de rir e eu me lembrei de uma foto que tenho, montado no Leão da Babilônia e ele “o leão” por sua vez montado e traçando um mulher, o quadro se parecia.
O poeta teve de esperar mais de meia hora até o bichão se fartar da metenguência e descer, aí ele apeou e disse: volto a pé e olhava pra mim como se eu fosse o culpado do seu aperreio, eu já não aguentava mais de tanto rir, ele caminhava na nossa frente peladão e aí é que a turma ria mesmo. De raiva quando passamos pelo laticínio ele entrou lá e só saiu no outro dia já vestido graças à intervenção de Norma que providenciou roupas para ele. Estava de bom humor e disse: vou escrever uma crônica sobre o acontecido, ficou três meses na fazenda e quando resolveu partir levou junto a minha especialista em queijos já grávida e com a barriguinha saliente. Fazer o quê? Tive de colocar um anuncio no jornal pedindo uma nova doutora em laticínios, até agora não apareceu, sabem de alguma que esteja precisando trabalhar? Pago bem. Fuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.
***OPCV*** Entrada sincopada antes de uma frase de alerta muito usada pelo povo mineiro e por extenso significa: "Ói PRO CÊ VÊ" ah ah ah ah.
Trovador.