OS MENINÕES
O texto a seguir foi extraído de “Crônicas da Vida Inteira”, livro inédito sobre fatos da minha vida, adaptado para o Recanto das Letras. Até aqui falei do meu tempo de criança. Daqui pra frente, contarei da minha adolescência, toda ela vivida no seminário, onde continuei fazendo minhas travessuras.
OS MENINÕES
Com o falecimento do último irmãozinho, nós, os gêmeos, ficamos sendo os caçulas. Não sei dizer se o mesmo fenômeno tinha acontecido aos outros irmãos, mas eu e o Paulo deixamos a infância muito cedo. Com doze anos, nós já começamos a cantar de galo no terreiro, como diziam os mais velhos ao perceberem que desafinávamos no falar e que já não tínhamos voz de criança. Devido a isso, quando nós ganhamos as primeiras calças compridas, já tínhamos quase a altura de hoje e as pernas peludas, o que nos deixava seriamente constrangidos e desajeitados.
Eta idadezinha danada! De um dia pra outro as roupas deixavam de servir, a gente não sabia onde enfiar as mãos, afora outros incômodos que nos obrigavam, como a todo adolescente, a andar quase sempre de mão no bolso.
As roupas de coroinha de que eu tanto gostava antes, foram ficando curtas, por meias canelas, e eu me sentia cada vez mais uma maria-mijona toda vez que as vestia, pois a barra rendada da sobrepeliz branca tinha subido quase até a cintura, faltando pouco pra deixar a descoberto o cós da saia vermelha. Não fosse desta cor, ficaria parecendo os trajes da dindinha – minha avó materna – que só usava saia e blusa. O cabeção, aquele colarinho vermelho, não acompanhou o engrossamento do pescoço. Se o abotoasse, eu me sentia um ganso enforcado.
O pior é que eu percebia nos colegas, principalmente nas meninas, certo ar de gozação, até risos e cochichos ao me verem assim tão desajeitado.