TEMPO DE NATAL

Quando as festas de final de ano se aproximavam, minha família começava uma rotina que, mesmo dando o maior trabalho, valia a pena. Era um período que ansiávamos, pois sabíamos que seria diferente.

Minha mãe começava em novembro com a faxina da casa. Tudo precisava ser arrumado, lustrado, encerado, ajeitado e lavado. Tudo deveria parecer novo ou renovado depois de limpo.

Às vésperas do Natal, a rigorosa faxina estava quase pronta. Já tínhamos lavado as paredes por fora e por dentro, pois não podíamos pintar a casa. E tudo parecia funcionar tão bem! Naquela época, chegava a pensar que o tempo não passava e que nada estava mudando. Com minhas pequenas mãos, ajudava no serviço com a mesma empolgação dos mais velhos. Era um momento de distração e alegria.

As festas natalinas e da Páscoa sempre foram momentos muito especiais, de agitação para nós crianças e bastante trabalho para os adultos, pois, além da limpeza da casa, tinham-se outros preparativos: o das carnes que seriam assadas; dos amendoins que seriam feitos no açúcar e colocados em cartuchos de papel; das sobremesas (da famosa torta de bolacha!), da canjica da sexta-feira da Paixão e de toda a comilança para aquele povaréu. O cheiro do pepino cru me lembra até hoje a salada servida naqueles dias festivos. O gosto do guaraná Max Willians e da laranjinha me remetem à alegria em torno da mesa farta e barulhenta.

Montar a decoração de Natal foi sempre um capítulo à parte da minha história de guria. Minha mãe guardava, em caixas, as bolinhas de vidro coloridas que enfeitariam a árvore de Natal escolhida e posta dentro de uma grande lata de tinta, forrada com papel laminado. Tudo recebia enfeites com papéis dourados, festões, algodões, luzinhas coloridas do pisca-pisca e muitas bolas de cores e formatos diferentes. Eu não sei o que acontecia, mas, em minhas pequenas mãos, as bolinhas de natal sempre se quebravam! Nestes dias, ouvíamos e cantávamos músicas natalinas que tocavam em discos de vinil.

A árvore aos poucos surgia no canto da sala de tevê. Todos os anos eram montadas de um jeito e em um lugar diferente na sala. Lembro-me de uma que foi feita com um galho seco, pintado de branco. O colorido das bolinhas de vidro e os festões verdes e dourados davam o brilho e a alegria para aquela linda árvore que levávamos horas para deixar pronta.

Havia anos em que o presépio era feito por nós, com rolinhos de papel, fazendo às vezes de Família Sagrada. Deixávamos tudo pronto para a semana da novena natalina, quando os vizinhos vinham a nossa casa para rezar. Cada dia, a novena era em uma casa diferente. Na mesma hora, as famílias chegavam juntas para se reunir, rezar e cantar. Sempre terminávamos o encontro com a música Noite Feliz. Apesar de a melodia ser triste, a cantoria colocava meu coração a palpitar. Eu ansiava por algo especial.

Nunca pedi presente de Natal, mas sempre esperava ganhar qualquer coisa. Um dia, ganhei um joguinho de chá, com xícaras, colherezinhas e tudo! Foi o melhor Natal da minha infância! Por muito tempo, este brinquedo fez parte das minhas brincadeiras de menina durante anos.

A espera pela festa era muito boa. Parecia que aqueles dias passavam cumpridos e cheios de alegria. A família se reunia em torno da mesa. Todos falavam ao mesmo tempo. Os meus irmãos mais velhos ainda eram adolescentes na época. Minha mãe era cheia de energia e passava horas fazendo a ceia natalina, enchendo a casa de um cheiro gostoso de carne assada e de diversas sobremesas.

Queria que muitos tivessem, em suas lembranças, estes preparativos para o Natal. Sinto falta da alegria e do sabor destes dias que somente a infância é capaz de proporcionar.

Feliz Natal a quem quer alegria e luz em seu viver!

Luciane Mari Deschamps
Enviado por Luciane Mari Deschamps em 24/12/2012
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