CHEGANDO À SUÉCIA

Tínhamos todas as informações e dicas necessárias, o código para entrar no edifício do condomínio e a chave do apartamento onde nos hospedaríamos durante os próximos trinta dias na Suécia. Além disso tudo, por diversas vezes pesquisamos no Google Maps tanto a distância da estação do trem onde desembarcaríamos, vindo de Copenhague, localização exata do prédio, com direito a visualização da rua, da portaria exibindo o número 48B e dos prédios próximos, isso é, o queijo e a faca em nossas mãos, bastava cortar e comer. Dito dessa maneira, claro, parece tudo muito fácil e óbvio, não? Todavia, não é bem assim.

Na noite anterior, durante a viagem que durou sete horas até Lisboa, com desembarque na capital portuguesa e conexão quatro horas depois, não pregamos os olhos. Para mim, sempre, é quase impossível dormir ouvindo as turbinas estrondosas do avião, as pessoas à frente e as dos bancos de trás conversando, roncando, rindo, espirrando, etc. E fico tenso, pensativo, ansioso para chegar logo, essas coisas do meu psicológico que não consigo vencer de jeito nenhum. Depois, e isso é por demais compreensivo, surge o cansaço e suas consequências, o desânimo característico oriundos das horas indormidas, a alimentação esquisita servida a bordo, e juntando tudo tem-se essa sopa de azedume rodando da mente para as pernas e vice-versa.

Compreende-se, por conseguinte, não ser tão fácil, nenhuma moleza mesmo, chegar ao nosso destino à noite, vinte e quatro horas depois e no ar o tempo inteiro, apanhar o trem na capital da Dinamarca sem ter a mínima ideia de onde fica a Triangl Station, onde deveríamos descer, não conhecendo uma letra do idioma sueco, vencido pela canseira da viagem e, em meio a isso tudo, o sono derrotando meus olhos. Apesar esses tormentos e vicissitudes, precisei perguntar todo, em inglês, a quem estivesse à minha frente, pois ali no trem veloz rumando para destinos ignorados, sabendo apenas o nome da estação de minha parada, tudo falado e escrito em sueco, eu era como uma criança deixada sozinha no meio de grande multidão alvoroçada. Por coincidência, eu e Ana nos sentamos próximo a uma família que, descobri depois, era da Inglaterra e morava na Suécia há algum tempo, portanto dominava a língua do país. Conversei com o patriarca, um senhor muito simpático que alegrou-se em saber minha nacionalidade brasileira, ele me tranquilizou afirmando que nas proximidades de minha estação ele avisaria. Agradeci, mais animado por essa alma de luz colocada por Deus naquele vagão onde, por desconhecer tudo, eu ia feito cego.

O sistema de som no trem vai avisando, no idioma sueco, evidente, a cada estação por onde passa, e assim foi também com a Triangl Station, momento em que o cidadão inglês gentilmente me avisou ser aquela a minha, onde eu desceria. Agradeci novamente, feliz, pegamos nossa bagagem e descemos juntamente com alguns passageiros. Deitamos nossos olhar sobre aquele mundo novo se descortinando aos nossos olhos, subi meu olhar para os nomes estrambóticos nas placas, sorri porque vi a palavra Smedsgatan, lembrando ser a o caminho de nossa saída da estação anteriormente anotada ante pesquisa na internet. Subimos pelo elevador os três andares até a superfície, o nível das ruas, sempre seguindo pela Smedsgatan, até nos depararmos com a cidade. Um gelado sopro de vento atingiu nossos rostos. Pus o gorro na cabeça e cobri o nariz com o cachecol. Procurei na esquina mais próxima o nome da rua Yastagatan, emitindo novo sorriso a vê-lo, pois era por ela que seguiríamos, e fomos, a pé, só uma linha reta, cerca de oitocentos metros até a esquina onde dobraríamos e entraríamos na Sofiestagatan. A essa altura minha ansiedade acelerava meu coração, mas notei que Ana sabia exatamente para onde ia e qual seria a esquina, ela parecia ter tudo mapeado no cérebro. Desse modo, entreguei-me ao conhecimento e acuidade dela, e não é ela dobrou precisamente no ponto certo, seguida por mim, entrou à esquerda da Sofiestagatan e foi direto para o nr. 48B. Só ela, eu não conseguiria com tanta facilidade. Ágil, digitou a senha, destrancou a porta na maior moleza, entramos e subimos os três lances curtos de escada, nos vendo, por fim, diante de uma grossa e imensa porta de ferro e aço. Ana simplesmente introduziu a chave correspondente, girou a maçaneta para cima e a abriu, mais uma vez facilmente. Entramos, eu suspirando de alívio. Nossa aventura na Suécia começava.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 24/12/2012
Código do texto: T4051761
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