Água da Bacia

Fico observando o carnaval que fazemos, sobre a água que derrubamos da bacia... Agimos como se estivéssemos nos afogando... Na pocinha! Mas, o estardalhaço é tamanho que não percebemos que aquela água que está entrando em nosso nariz, é proveniente de nossa histérica agitação. Se nos acalmássemos, veríamos que o afogamento não é uma alternativa plausível, por enquanto.

Nossa insegurança comanda esses nossos espetáculos tristes, repetitivos, cansativos. O terrível é que todos nós, em algum momento, o encenamos. Para alguns, fica em cartaz por aaaaaaaanos. Tudo, como sempre, fruto podre de nossa ausência constrangedora de autoconhecimento e de nossa preguiça em pensar. Preferimos botar goela abaixo tudo que nos é imposto, tudo que nos é oferecido, com as piores intenções.

Tenho reparado na relutância extremada, descabida, que temos em nos dirigir à luminosidade. Preferimos continuar com essa apodrecida e descabida existência social, que só não é mais falsa, porque já traímos todos os nossos escrúpulos. Não há mais o que banalizar. Tudo já foi destorcido e deturpado.

Agimos como se fôssemos adictos deste sistema, que já não mais se governa. Não sabe mais pra onde vai. Está tão perdido quanto a multidão que conduz. Como se não houvesse outro jeito de existir, sem expandir o consumir. Que estreiteza! Misericórdia! Logo nós, com toda esta natureza, que, por milagre, ainda temos, sonhamos com condomínios cada vez mais fechados, com carros blindados. Achamos que podemos blindar o peito. Mas, não dá. Impossível! Perda de tempo!

Em algum momento cada alma perceberá sua identidade e cumprirá seu papel junto às florestas, às serras, aos campos, aos mares! Comover-se-á com tanta sabedoria explícita! Com a incomparável perfeição artística das manifestações naturais ao nosso redor. Manifestações essas, que sempre estiveram aqui, ao nosso lado. Nós não percebíamos porque estávamos ocupados demais derrubando florestas, para construir nossas particulares prisões.

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