PORQUE AS CRIANCINHAS MORREM
Não queria escrever esta crônica. Meu coração suplicava que fizesse uma crônica feliz, pois o Menino Jesus irá nascer no dia de Natal e tudo será motivo de comemoração e alegrias.
Diante do noticiário que vi na TV que uma criancinha desnutrida pela fome perguntou à sua mamãe se no céu teria pão para comer e logo em seguida morreu, um sentimento de angústia se abateu sobre mim e nessa hora uma lágrima teimosa deslizou sobre meu rosto, deixando-me muito triste.
Meus pensamentos voaram céleres como uma chispa de um raio que em segundos se abatem sobre a terra, anunciando a tempestade que trará a chuva bendita que irá molhar a terra e os alimentos germinam para o sustento de nossas mesas e a água potável para saciar nossa sede.
Foram pousar no agreste sofrido do nordeste, onde não chove há meses e as plantas não vingam pelo sol incremente, o gado morre porque não existe o que comer, nem o cactus espinhento, e a água para saciar a sede das criancinhas sumiu nas entranhas da terra ressequida e algumas poças contaminadas guardam o restinho que a mamãe vai buscar andando quilometros na estrada poeirenta e depois traz com habilidades a lata sem derramar uma gota, despejando no pote para ser servido após uma fervura que não tira as bactérias, mas a sede é grande e olhos macilentos precisam beber.
Penso então porque não se encontram soluções práticas, como construção de cacimbas para armazenar o precioso líquido das chuvas, barragens cavadas nas depressões de terrenos que formariam lagos onde se poderiam criar peixes e os agricultores fazerem irrigação de suas lavouras, com subsídios do governo para adquirirem os equipamentos e assim salvarem as plantas que alimentariam suas familias, o gado faminto e gerariam rendas para suas subsistências.
Logo as deduções vem em tempestuosas volúpias na minha mente e tiro minhas conclusões, óbvias, que se repetem em todos os ciclos das secas e agora se mostra ainda mais inclemente, principalmente no Estado de Pernambuco, com gado morrendo nos pastos e suas carcaças ficam expostas diante do sertanejo triste que nada pode fazer e fazem com que os urubus tenham um repasto digno dos reis.
É a industria da seca, onde muitos ganham dinheiro vendendo água suja e contaminada em carrocinhas com grandes tambores, à preços exorbitantes e o povo tem que pagar. Os carros pipas, cedidos pelas Prefeituras das cidades atingidas são insuficientes, mas fazem dos políticos os benfeitores do povo, quando na verdade, estão tirando proveito de uma situação que certamente os elegerão para as próximas eleições.
As criancinhas perecem de fome, desnutridas por não terem os alimentos que faltam nas panelas e os escassos grãos de feijão ou de arroz são fermentados junto com pedaços de cactus para dar um pouco de volume na alimentação fraca que a mãe desesperada tem para o dia, não sabendo se no dia seguinte alguma coisa teria para cozinhar.
Criancinhas não podem ter esse destino cruel, pois nascem para trazerem alegrias, sorrirem, brincarem, terem vitalidades para saírem em disparada e depois de um tombo, levantarem soltando gostosas gargalhadas.
O meu inconformismo diante de um fato muito triste fez com que escrevesse estas linhas e com a certeza que essa criancinha terá sim no céu o pão que faltou aqui na terra para matar sua fome que sua mãe desesperada não pôde comprar e os Anjinhos velarão seus passos.
24-12-2012