“Epoché”

É preciso sempre pensar no que foi pensado e escrito, depois repensar e refletir sobre o que já foi refletido. Nem sempre o que a gente vê é o que está em nossa frente. Olhamos apenas e não procuramos o que está além, e assim, ficamos no aquém e nos contentamos com definições e pré-conceitos que já foram formulados. Há mais cores no mundo, mas, só enxergamos as que nos interessam. As formas e os disformes são só o que enxergamos, pois estamos presos ao nosso olhar e as nossas percepções.

É possível enxergar atrás do quadro já pintado e exposto em uma galeria? Muitos falarão que não e eu confirmo! Somos prisioneiros da moldura, da pintura e jamais nos libertaremos, pois, a todo momento, nos algemamos. Colocamos amarras e aceitamos o que nos é imposto, e assim, limitamos a busca de um todo e nos contentamos com o parco que nos é mostrado. Além do além há também um além, mas o que nos interessa é o tangível, o telúrico, aquilo que podemos nomear e conceituar. Fórmulas dadas e um mundo com a forma que é ditada nos diminui, nos menoscaba. A verdade foi propagada e com ela a sua carga falaciosa se ecoou. Tudo então passou a ser uma farsa, uma vontade apenas de se libertar, mas sem as chaves necessárias para abrir a cadeia interna de cada ser.

Devemos duvidar até do que foi dito e assim colocar em cheque o mundo que nos foi apresentado. Formas já construídas, pensamentos já formulados e uma massa seguindo achando que está pensando. Tudo escrito! Pensamos que pensamos, mas na verdade somos construções de um exterior que nos molda e nos direciona. A sociedade nos mortifica com suas regras e o dedo em riste nos acusa. Os vigias do mundo criam pecados amiúde; aprisionam e amordaçam, numa forma de censurar o que pensamos que pensamos.

Somos filhos do pronto e acabado, não nos deixaram nada, nem mesmo a repulsa nos é permitida. Se eu penso, não penso; se falo, não falo; se vivo, não vivo, tudo virou uma pantomima, mimeses para ser mais exato. O “justo meio” ficou exponencial e quem pensa em se libertar cai novamente em outras grades. A vida ficou repetitiva e a rotina estabelecida criou seres incapazes de deblaterar, de ulular. Seres com uma vida cotidiana e simplória.

Não há nada que escape do quadro já pintado, as cores não mudam, a imagem sempre será estática e tudo descolorirá com o tempo. A fôrma da forma é uma forma de manter tudo controlado, tudo na Matrix, e assim, a vida, se resume apenas na perpetuação de uma espécie que pensa que pensa que é racional.

Mário Paternostro