Confesso

Confesso que quando me olho no espelho, não reconheço a menina que eu era. Não falo do envelhecimento pelo qual, cedo ou tarde, todos nós passaremos. Falo de uma mulher que nasceu a ferro e fogo das entranhas de uma menina tímida.

Os que me conheceram há menos de uma década, certamente não acreditarão que a mulher que hoje ruge para lutar pelo que acha certo, chorava copiosamente porque nem sabia se defender de uma faísca de maldade.

Eu mesma custo a acreditar que somos a mesma pessoa. O silêncio que era meu companheiro inseparável, hoje me abandonou e só me visita de vez em quando. As lágrimas que surgiam ao menor sinal de desilusão, hoje conseguem ser sufocadas pela maturidade adquirida pelos anos.

Sinceramente não sei se prefiro a de hoje ou a de ontem, porque ambas me proporcionam alegrias e tristezas. Antes, as palavras, as lágrimas e as opiniões que eu sufocava na alma, me dilaceravam, mas me mantinham em paz com o resto do mundo. Hoje, a explosão de sentimentos e pensamentos que me acompanham, me deixam imune ao rancor guardado, mas, por vezes, dilaceram os que amo.

Se eu pudesse escolher, talvez continuasse a ser a menina de antes, porque, a mulher de hoje também dilacera a alma quando machuca o outro. Como não há escolha... as almas continuarão a ser dilaceradas.

Ane Rose
Enviado por Ane Rose em 23/12/2012
Reeditado em 29/12/2012
Código do texto: T4050585
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