Mais um Ìdolo Esquecido
O Palmeiras mandou fazer uma estátua para homenagear Ademir da Guia. Bom jogador, muito dedicado ao Palmeiras, muito disciplinado e leal com todos. Muito justa a homenagem.
Mas o que grande parte da torcida não conhece é que um grande craque merecia muito mais e foi esquecido. Eu falo de Eduardo Jorge de Lima, ou apenas Lima, que chegou ao Palestra Itália aos 16 anos, vindo do Corinthians do Bom Retiro, um dos melhores times de várzea de São Paulo. Lima tinha muito talento e já em 1938, aos 17 anos de idade, jogou algumas partidas do certame paulista daquele ano, estreando em 11 de dezembro de 1938, na derrota de 3 x 0 que o Palestra Itália sofreu para o C. A. Ypiranga.
Nessa partida o Palestra Itália formou com: Valter, Carnera e Junqueira; Ruiz, Preti e Del Nero; Filó, Canhoto, Otávio, Lima e Rolando. O C. A. Ypiranga formou com Tufi, Maneco e Mauro; Rovai, Américo e Armando; Avelino, Imparato, Marinoti, Viana e Figueiredo. O Palestra poupou vários titulares nesse jogo, mas Lima mostrou que teria grande futuro.
Já em 1939 Lima teve de aguardar um pouco, pois o Palestra tinha vários ídolos no ataque. Porém, todas as vezes em que ele entrava mostrava que seria muito difícil tirá-lo do time.
Lima voltou ao time titular com 18 anos numa partida realizada em 24 de setembro de 1939 contra o Santos F. C., quando teve grande atuação. O placar mostrou: Palestra 2 x 2 Santos. O Palestra Itália jogou com Gijo, Carnera e Junqueira; Carlos, Lorenzo e Garro; Luizinho, Canhoto, Etchevarrieta, Lima e Zali. O Santos formou com Ciro, Neves e Vanderlino; Elesbão, Gradim e Laurindo; Bazani, Moran, Raul, Remo e Tom Mix.
Mas foi em 1940 que Eduardo Lima se consolidaria como titular do Palestra Itália. tanto ele jogava que recebeu o apelido de “garoto de ouro”, tendo sido o destaque do time do Palestra Itália cuja base era: Gijo, Carnera e Junqueira; Garro, Oliveira e Del Nero; Luizinho, Canhoto, Etchevarrieta, Lima e Pipi, equipe campeã paulista de 1940.
Em 1942 o Palestra voltou a ganhar o título paulista.
Em 20 de setembro de 1942 o Palestra Itália passa a se denominar S.E. Palmeiras, devido a Segunda Grande Guerra e ao fato da Itália ser aliada da Alemanha e inimiga do Brasil. Assim, por um decreto de nosso então presidente da república, o Senhor Getúlio Vargas, todas as denominações de clubes e sociedades, que tivessem origem italiana, alemã, japonesa, e de várias outras nações, deveriam ser modificadas.
No final do Campeonato de 1942, o Palestra Itália liderava o certame e após o decreto presidencial entrava em campo com o nome de Palmeiras, e terminaria sendo campeão de 1942.
E para dizer que o Palmeiras não era clube racista, contratou o escurinho, e muito bom jogador, Og Moreira, que veio do Fluminense do Rio de Janeiro. A base do campeão de 1942 era formada por: Oberdam, Junqueira e Beluomini; Zezé Procópio, Og Moreira e Del Nero; Cláudio Cristóvão do Pinho, Valdemar Fiúme, Etchevarrieta, Lima e Pipi.
Em 1942 deve-se dizer ainda, que outro grande craque havia voltado ao alviverde, depois de ser, por várias vezes, campeão carioca pelo Fluminense. Seu nome era Romeu Pelicciari.
A linha de ataque do Palmeiras era então formada por Cláudio, Romeu, Etchevarrieta, Lima e Pipi. Era uma linha atacante arrasadora.
O grande Eduardo Lima era cobiçado pelos grandes clubes cariocas, mas bateu o pé e não foi para o Rio de Janeiro. O assédio continuou maior depois do campeonato Brasileiro de Seleções quando os Paulistas bateram os Cariocas por 3 x 2, com Lima sendo escolhido o melhor jogador daquela partida.
Os Paulistas venceram o título Brasileiro de Seleções com Oberdam, Junqueira e Beluomini; Jango, Brandão e Dino; Cláudio, Servílio, Milani, Lima e Pardal. Os Cariocas, favoritos ao título, perderam com Batatais, Norival e Florindo; Afonsinho, Rui e Jaime; Pedro Amorim, Zizinho, Pirilo, Perácio e Vevé.
Em 1943 o São Paulo F. C. foi o campeão Paulista com um grande time. Havia trazido Leônidas da Silva, do futebol carioca, além de vários outros grandes jogadores como Rui, Zarzur e Florindo. Trouxe Antonio Sastre, argentino do C. A. Independiente, de Buenos Aires. Ainda chegaram para o tricolor paulista Noronha, do Rio Grande do Sul, e Zezé Procópio do Palmeiras. O São Paulo ganhou o campeonato com esta equipe base: Doutor, Piolim e Florindo; Zezé Procópio, Zarzur e Noronha; Luizinho, Sastre, Leônidas, Remo e Pardal.
Mas Eduardo Lima ainda foi escolhido o craque do ano de 1943.
Em 1944 o Palmeiras foi campeão paulista com Lima sempre no comando da equipe que formou com Oberdam, Caieira e Junqueira; Og Moreira, Dacunto e Gengo; Gonzales, Lima, Caxambú, Villadonica e Jorginho.
Nos anos de 1945 e 1946 o são Paulo voltou a comandar o futebol paulista, sendo bicampeão. Mas em 1947 o palmeiras voltaria a interromper o tricolor. Nesse ano o alviverde trouxe da Portuguesa de Desportos o meia, já quase veterano, Arturzinho. E a equipe alviverde levou o Palmeiras ao título. Talvez o único que Arturzinho teve na carreira. A equipe base do Palmeiras era: Oberdam, Caieira e Turcão; Túlio, Og Moreira e Valdemar Fiúme; Lula, Arturzinho, Osvaldinho, Lima e Canhotinho.
O São Paulo voltou a ser campeão paulista em 1948 e em 1949, mas em 1950 novamente o Palmeiras interrompia o sonhado tricampeonato tricolor.
O Palmeiras de 1950 era de Oberdam, Turcão e Sarno; Salvador, Luiz Villa e Valdemar Fiúme; Nestor, Lima, Aquiles, Jair e Rodrigues.
Eduardo Lima foi e será sempre lembrado como o ídolo de todas as torcidas, graças às suas qualidades de jogador e de ser humano. Nunca foi expulso de campo e respeitava a todos como adversários e não como inimigos, como parece que parte da crônica esportiva atual deseja.
Ainda em 1952, completando 14 anos de Palmeiras, fez seu último jogo com a camisa alviverde em 19 de outubro de 1952, contra a Associação Portuguesa de Desportos, no Estádio do Pacaembu. O placar foi Portuguesa 2 x 2 Palmeiras. As equipes formaram assim: Portuguesa com Lindolfo, Nena e Hermínio, Djalma Santos, Brandãozinho e Ceci; Julinho Botelho, Renato, Pontoni, Ranulfo e Simão. O Palmeiras com Fábio, Rubens e Juvenal; Valdemar Fiúme, Luiz Villa e Mirim; Lima, Liminha, Amorim, Jair e Rodrigues.
Em 1953 Eduardo Lima foi jogar no Jabaquara A. C., de Santos, para tentar ajudar o velho “Leão do Macuco” a galgar posições melhores. O convite talvez tenha sido feito por Veiguinha, Olegário e Mauro, velhos companheiros de Campeonatos Paulistas.
Lima logo encerrou sua carreira mas deixou muitas saudades em todos aqueles que o viram jogar.
Hoje, na época dos meios de comunicação ultramodernos, criam-se ídolos de uma hora para a outra. As torcidas são muito influenciadas por vários cronistas recém-saídos de faculdade e que não se dignam a ler sobre a história das grandes equipes e de seus verdadeiros ídolos.
As próprias páginas dos grandes clubes brasileiros, na internet, não se importam em fazer uma pesquisa aprofundada sobre a história do clube e o resultado é uma informação pobre de um período brilhante do nosso futebol.
Acredito que não há um melhor jogador da história do Palmeiras. Dividindo por épocas podemos dizer que este ou aquele foi o melhor jogador, mas não o melhor de todos.
Eduardo Lima foi um dos melhores jogadores da história do Palestra Itália e da S. E. Palmeiras. Mesmo não tendo uma estátua no Estádio Palestra Itália.
Acredito que isso pouco importasse para Lima. E o que importa, e o que ficará para sempre na História do Alviverde, é o muito que Eduardo Lima fez pelo Palmeiras.