"...VERDADES VELHAS CAIADAS DE NOVO"
Li, outro dia, numa revista semanal de grande circulação, um artigo de J. R. Guzzo, em que ele comenta a definição do vocábulo intelligentsia, de origem russa, como sendo a classe de pessoas que está em um nível superior às demais, de maior cultura, mais inteligentes. Sempre, ou quase sempre, as conclusões, as medidas tomadas por essa classe, dão certo.
Pelo visto, ultimamente, em quase todos os setores de atividade, poucos podem ser enquadrados na citada categoria, em nosso meio, uma vez que tenho visto acontecer coisas difíceis de se acreditar. Na administração pública, na política, apesar deste ser assunto em que não desejo tocar, nem se fala, tantos são os maus exemplos de atuação dos seus atores. É o caso, no futebol, da invasão de vestiário pelos conselheiros de um clube, armados, após derrota do mesmo, a fim de intimidar seus jogadores. Também, no julgamento de ex-ministro, a respeito de sua participação em caso de conta bancária.
Com esses exemplos, o autor do citado artigo, classifica as pessoas situadas no oposto, aqueles que, pela pouca inteligência, em tudo aquilo em que põem a mão, dá errado, criando o vocábulo burritsia. Eu acrescentaria, vendo a situação, hoje, no Brasil, mais dois: malandritsia e hipocrisitsia.
Chamou-me a atenção, também, num famoso programa de atualidades de domingo, na TV, a apresentação de uma moça que, ao ouvir uma música, tinha a sensação de ver cores e sentir odores. Esse dom, muito raro, aliás, tem explicação científica, dada por neurologistas e é chamado de sinestesia.
Mas, não é só ai que a sinestesia aparece, pois, de acordo com a lição da professora de Português, Iara, minha mulher, essa palavra também é definida como uma figura gramatical da nossa língua, sendo, segundo Paschoalin & Spessoto, in Gramática Teoria e Exercícios, FTD, 1989, pág.360, “uma espécie de metáfora que consiste na união de impressões sensoriais diferentes”. Ex. cheiro doce, beijo amargo, cheiro verde.
Outro termo de significado interessante, se bem que pouco utilizado, é supedâneo. Significa ter por base, amparado, de acordo, e é encontrado, geralmente, nas petições judiciais, usado pelos profissionais do direito.
Todavia, há algum tempo atrás, a ACISA, que todos conhecem, visando apoiar o comércio de rua de Santo André, na luta contra os ambulantes e a segurança dos pedestres da rua Oliveira Lima, doou à Polícia Militar, umas unidades móveis na forma de cabines, onde o policial se acomodava num nível acima do movimento da rua, a fim de melhor exercer suas funções. A essas guaritas, foi dado o nome de supedâneo. Sugestivo, não? Hoje, diga-se de passagem, elas não estão sendo mais usadas.
Por derradeiro, me recordei do tema da redação do primeiro vestibular (1965) da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo “...Ao fim e ao cabo, só há verdades velhas, caiadas de novo....”(Machado de Assis). Ao bom entendedor, seria a mesma coisa do que dizer “finalmente, nada mudou, tudo continua como dantes”. Ou, como bem disse o urologista Afiz Sadi, na Folha de São Paulo, “tudo é novo, sem deixar de ser velho”, ao se referir à grande frequência, atual, de casos de câncer no pênis, como não sendo novidade.
No vestibular acima referido, muito candidato não soube interpretar o texto do grande escritor brasileiro. Paciência!