RUA DOS DIAMANTES EM PARIS
Uma multidão charmosa, elegante, muitas mulheres bonitas sobre seus saltos altos, com suas bolsas Louis Vitton, Burberry, casados Dior, jóias da Cartier, algumas descendo de suas Ferraris, BMWs, limusines, em sua companhia as amigas tão multimilionárias quanto elas, ou homens vestindo ternos de marcas famosas ao lado delas e sobretudo também chamando a atenção por seus gestos clássicos, bem educados. Entram nas lojas cheias de funcionários e funcionárias sorridentes e sobretudo perfumados, vestidos como manda o figurino para receber esses clientes ricaços, alguns dos homens, altos, aparência de astros de Hollywood, deixando o rosto explodir em sorrisos, abrem as pesadas, luxuosas, belas e impactantes portas das marcas conhecidas no mundo inteiro e se inclinam para os clientes bilionários que chegam pingando ouro.
O universo dessas pessoas transpira uma aura quase sobrenatural, de riqueza rechonchuda, de luso obeso, de brilho diamantino. Cada peça exposta nas vitrines não custa menos de dez mil reais, a mais simples, podendo alcançar valores tão astronômicos quanto impensáveis pelos simples mortais. Na Rue Royale, em Paris, os verdadeiramente ricos se divertem comprando, gastando suas fortunas incalculáveis nas lojas mais caras da Cidade-Luz. Eles chegam de limusines, dirigindo Ferraris ou sendo trazidos em seus carrões por motoristas devidamente aparamentados, educados, simpáticos e treinados para abrir-lhes as portas e ajudá-los a sair de suas obras de arte de quatro rodas. Nessa rua, excetuadas as pobres criaturas que por lá circulam somente para testemunhar o poder do dinheiro e se encantar com tantos objetos maravilhosos, lindos, caríssimos e de impossível alcance para elas, muitas daquelas pessoas valem seu peso em ouro vinte e quatro quilates.
De se registrar que muitos desses clientes especiais, donos de excepcionais riquezas, minas de ouro ambulantes, vem de outros países num fim de semana apenas para fazer compras nas grandes marcas de preços absurdos - óbvio, não para elas, pois o se para o mortal comum cinquenta mil reais é um valor que ele nunca terá, para esses certamente bilionários é o mesmo que gastar cem reais. Uma ruela paralela à Rue Royale fora interditada por razões que desconheço, carros não poderiam circular por lá. Mas vi quando um desses carros dos sonhos parou mesmo diante dos dois policiais asseguradores da interdição, dele saiu uma mulher explodindo ouro, que nem olhou para eles, e se dirigiu para a Cartier enquanto seu motorista conversava com os policiais, diálogo que não demorou nem um minuto e já o carrão milionário era autorizado a entrar em um local expressamente proibido. Não sei quem era ela, contudo, pelo visto, pareceu ser alguém de muito poder e detentora de extraordinária riqueza.
A tal ruela interditada para automóveis chamou minha atenção, veio-me o interesse de caminhar por ela para ver o que tinha de tão importante para sofrer essa interdição, mas diante de minha singeleza e da expressividade daquele ambiente pintado de ouro, refleti duas vezes, não quis ir sem ter certeza de não ser barrado. Vi, no entanto, o movimento de muita gente entrando e saindo dela, então fui também e, exceto um Maserati estacionado tranquilamente como se fosse um mero fusquinha cujo dono dele se envergonha. Fui até determinado ponto da ruela, observei-lhe os dois lados tomados pelas marcas de alta fama, voltei, passei meio intranquilo pelos policiais, sabe lá o que se passa na cabeça desses seres inesperados, entrei novamente na Rue Royale e fiquei me encantando feito menino sonhador olhando tudo que não pode comprar, mas com o que sonha e não paga nada para isso. Em Paris, mesmo não sendo um ricaço endinheirado até as alturas do céu, pode-se ser um poeta em devaneio, pode-se entregar aos sonhos de olhos abertos e sorrir como se bilionário também fosse e esbarrar sem querer nesses seres sociais acima da plebe que apesar de tudo tem, pelo menos, o direito de ser criativo em sua maneira de sonhar.