Papai Noel por acaso

Já tinha me recolhido. Estava na cama tentando pegar no sono com a cabeça cheia de Natal. Pensava nas coisas que ainda teria de fazer antes da ceia... Foi então que me veio à mente um Natal que tivemos há muito tempo atrás.

Tinha tido meu primeiro filho, em julho, naquele ano. Apesar de ser um bebê, era seu primeiro Natal e, para uma mãe de primeira viagem, um fato a ser vivido e comemorado intensamente.

Naquele ano, nos reunimos na casa de uma prima querida. Éramos alguns jovens casais com filhos pequenos. Minha prima havia "bolado" a aparição de Papai Noel para a distribuição de presentes. O convidado que encenaria a personagem do bom velhinho, à última hora, tivera um contratempo e não pudera comparecer. Aí estava um grande problema!

As crianças já esperavam pela presença do Papai Noel...mas como? Se um de nós saísse da sala para encarnar a personagem, elas (as crianças) perceberiam nossa falta e logo descobririam que um de nós era o Papai Noel. Isso quebraria todo o encanto...

- Já sei! - disse minha prima, dirigindo o olhar a mim - Você será o Papai Noel!

- Eu...? Como?

- Você tem o álibi perfeito. Terá de amamentar o bebê no quarto. As crianças não pensarão que você é o Papai Noel.

Não tive nem tempo de piscar e já preparavam os travesseiros para me engordar e dar forma à figura rechonchuda do velhinho.

Foi uma tarefa difícil. Como estabilizar os travesseiros que teimavam em fugir do lugar apropriado?

- Uma faixa! Uma faixa!

Enfaixaram-me. Parecia uma múmia barriguda. Depois a roupa... Por último a barba.

Novo problema: - Você tem olhos verdes! As crianças vão perceber, pois você é a única pessoa de olhos verdes aqui!

Nada que as terríveis e grossas sobrancelhas brancas não se encarregassem de esconder. Para arrematar os óculos, um gorrinho na cabeça e botas nos pés. Ah, sininho na mão. Lá estava eu, pronta para a grande performance.

Apagaram as luzes da sala. Entrei badalando o sininho.

Quando as luzes se acenderam, vi meia dúzia de carinhas encantadas olhando fixamente para mim.

Fiquei feliz! Nada mau! As crianças gostaram! Uma sensação de ser o próprio Papai Noel me invadiu momentaneamente. Quando ergui os olhos e dei com os rostos dos adultos tentando disfarçar o riso, senti-me como um dos anõezinhos da história da Branca de Neve...

Mantive a calma, contive a frustração e o riso nervoso.

A voz! Meu Deus! Não tínhamos pensado nisso. Engrossei a voz o mais que pude... Horrível, mas crível! Ho...ho...ho...

Tudo bem até ali! Chegara a hora da distribuição dos presentes. Levantei o braço para dar o primeiro presente e... a manga deslizou suavemente ao longo do meu braço fino e feminino.

Uma das crianças mais velhas viu e imediatamente exclamou: - O Papai Noel é mulher!

Que horror! Todo o encantamento desaparecera. Mesmo assim, os pequeninos me defendiam: Não é, não! É o Papai Noel, sim!

A distribuição continuou rapidamente e, também rapidamente o Papai Noel se retirou, quando uma das crianças já começava a me chamar pelo nome...

Não posso negar que foi divertido e inesquecível... Feliz Natal! Ho...ho... ho...