Paixão

Sexta feira da Paixão. Data em que os cristãos relembram os últimos passos de Jesus Cristo, desde seu julgamento até sua crucificação e sepultamento. Um dia para refletir o martírio que Ele sofreu para que todos os pecados fossem perdoados. Para uns normalmente vêm à mente imagens que remetem à intensa dor e humilhação nesses últimos instantes. Para outros é uma data como outra qualquer. Mas acredito que cada um pode extrair daí muito que se aplica na sua própria vida. Vejo a Via Crucis como uma entrega total. O ato de se doar para até mesmo os que o açoitam, sendo talvez este o único caminho para salvá-los. A sabedoria de entender que as pessoas se corrompem, mas que podem ser limpas. É saber que se você caminhou um pedaço maior da estrada, sua responsabilidade é servir de guia pros que estão no começo . Que o exemplo maior é fazer o que deve ser feito, mesmo que este seja o caminho mais doloroso. Que compaixão, amor e perdão valem mais que riqueza, fama ou poder. E que o sofrimento é um evento natural da vida em algum estágio. É ele que anuncia a ressureição de cada um como uma pessoa mais preparada pra vida. E a ressureição aqui quer dizer: Você pode mais do que fez até aqui, e você pode carregar e vencer sua cruz. Na verdade, ainda não tive exemplo maior de força, sabedoria, abnegação e amor do que Jesus Cristo. Tenho muitos outros exemplos. Mas não tão forte. Não sou um entendido em religiões e na verdade não quero ser. Sempre me dizem que eu devia aceitar Jesus, ainda não sei bem o que querem dizer. Sou católico e pelo conceito atual, não sou um praticante. Acredito que não se pode provar ou contestar a existência de Deus. E que no final o que importa é o que faz a pessoa ser melhor pra ela e pros outros. Acredito que a fé (a fé sensata, esclarecida), é tudo que move a pessoa em direção à algo bom. Infantilmente acredito que ser uma boa pessoa é o caminho para fazer o melhor para os que estão ao seu redor e para si mesmo. Apesar de estar longe de ser essa pessoa, esse é o meu norte. Infelizmente no caminho, muitos eu feri e por muitos fui ferido. Conheço pessoas maravilhosas que são católicos, evangélicos, kardecistas, ateus, etc. Cada um acertando e errando nas devidas proporções. Uma pena as vezes andarmos tão separados, o quanto nos agredimos por pensar de um modo diferente. Acho que sempre temos a aprender e ensinar uns com os outros, mas perdemos tanto tempo tentando ter razão. É Sexta-feira da Paixão, e apesar das dores do mundo e da maldade que a humanidade pode fazer, ainda sigo na ingênua esperança de que uma vida de entrega vale a pena. E entrega eu entendo como não ter medo do trajeto mais difícil. Que cada um, no caminho que escolheu, pode ser um milagre a cada dia. E na certeza de que pouco sei, peço perdão aos que eu machuquei por ser imperfeito e agradeço o muito que aprendi com cada um que passou na minha vida.