O observador[3]
Era um daqueles dias normais de talvez Março ou Abril de um tempo não tão distante, em que os pássaros estavam felizes trocando informações em relação à paisagem do planalto central.
Era um daqueles caras que recebia convites que provavelmente eram de outras pessoas. Que recebia propostas valiosas de gente importante. Que perdia tempo fazendo o que gostava, e só.
Só.
Então, eis que tomou só mais uma daquelas decisões sem pé nem cabeça que cabia ao seu ser. Só.
Bem, não tão só, já que o seu aparelho móvel o lembrava no decorrer do dia e informava quando outro animal de sua espécie tentava comunicação a longa distância por técnicas estudadas por uma minoria e que pouco importava aos demais, nem mesmo àqueles que a usavam.
Era um outro alguém; um outro "coiso". Talvez um "coiso" mesmo. Um "coiso" que tentou tirar proveito de uma situação e acabou sendo "coisado" pela causa do bem. Coisado por um amor que não saía dos animais ao redor, mas do meio; um meio que era um todo.
Conversou sobre um projeto simples e logo viu que ia precisar de ajuda. Sentou-se e começou a planejar.
Com a atenção focada abaixo da superfície da visão normal não conseguia ver nada, o que era mentira, já que viu um outro semblante, que inclusive parecia com o seu, logo subiu a vista e pensou: "Eu poderia me apaixonar mesmo por você".
A dona do semblante, por vez, cochichou algo e andou na direção dele, cumprimentou, sorriu, fez um rascunho num papel qualquer e foi-se embora. Foi-se.
Foi-se e não deu nem chance do rapaz se apresentar.
Ele andava pelas calçadas, ela não o via. Ele sorria; ela olhava pro lado. Ele contraía; ela empurrava. Ele respirava, ela não. Um total sincronismo imperfeito.
Mas e hoje? E se hoje fosse realmente o fim do mundo?
p.s.: Talvez num outro fim do mundo a gente possa se encontrar.