HISTÓRIA DA BACIA ESMALTADA NO BREGA DE SANTA MARIA DA VITÓRIA

PINGO D'ÁGUA ERA O NOME DA ZONA(BREGA)

O ano era 1974, ano da conclusão do primeiro grau na Escola Popular Oliveira Magalhães. Éramos uma turma de alunos famosos no contexto de Santa Maria da Vitória, se não vejamos alguns nomes: Renato de Naná, Antônio de Palu, João Batista, Saulinho, Kadinha( Carlos Raimundo) Jairo, George, Rogério(lega) Robertinho, Zé Manoel, Sara, Netinha, Rosa de Antônio Carvalho, Verônica e alguns outros nomes que me fogem à memória e eu é claro.

A história se desenrola com alguns varões da nossa classe, neste caso a oitava série do primeiro grau. O mentor da aventura tem nome: Rogério Neves, cujo apelido era Lega. Lega era o capeta da turma. Certa vez, ao brincar de jogar pedras nos colegas, acabou acertando dona Neusa Coelho e quem pagou o pato? Jairo e George, pilhados em flagrante delito já que o autor da pedra perdida que atingiu a ilustre senhora, havia sido lançada pelo Lega, que se escondeu ao perceber a nobre senhora chegando à sua loja enquanto os nobres colegas mantiveram a posição de guerra lançando pedras um no outro. Eram brincadeiras costumeiras! Sem graça mas interessante no quesito pontaria.

Vamos deixar de lado este episódio que de fato sobrou para Jairo e George vamos ao fato desta crônica cujo personagem principal dela somos nós e o responsável pelo projeto foi nada mais o Lega, o capetinha da classe.

- Vamos terminar o ginásio e todo mundo virgem e donzelo! Há não, temos que ir ao Pingo “D ‘água perder o cabaço gente!.

- Eu já sou macaco véio no ramo, disse João Batista

¬ Eu também, disse Renato de Naná.

- Eu também, completou Tonho de Palú.

- Eu também, falou Robertinho.

- Eu já dei as minhas...............argumentou Kadinha.

Pelo jeito, George, Rogério, Saulinho, Jairo e eu , éramos os donzelos da turma de camaradas e, que teríamos de concluir o primeiro grau, debutando no brega de Santa Maria da Vitória. E a aventura começou em um belo sábado acalorado e amormaçado. Para se chegar ao brega, tivemos que fazer um exercício danado já que não poderíamos dar na cara de que estávamos indo ao brega da cidade. Pegava mal.

Tivemos que andar lá para as bandas da caixa de água, perto do cemitério, usar a rua de trás do Malvão para chegarmos até o brega, além de fugir dos guardas e PM que faziam a patrulha para que menores não o frequentassem.

Rogério e João Batista eram os nossos guias. Foram eles que escolheram as raparigas para nós, os donzelos. Primeiro foi o George quem entrou naquele quarto. Após quinze minutos ele saiu sorridente com o brilho nos olhos.

- Lavou o rosto na bacia? Perguntou o Lega, capetinha da turma.

- Sim, respondeu George.

Rogério quase morreu de rir diante da afirmativa de Caçote, apelido de George. Fiquei meio intrigado com o divertimento do Lega. Saímos daquela casa vermelha e fomos para outra. Alguns minutos depois de ter adentrado em um quarto Rogério voltou e disse: Joãozinho agora é a sua vez.

Adentrei ao quarto, e lá estava uma morena cujo nome era Tuca. Não são as iniciais do Teatro da Universidade Católica, não. Aliás, naquela época eu nem sabia disto. Só sei que a Tuca falou: quer dizer que é a primeira vez?

- Sim, é a primeira vez, respondi.

- Vou quebrar o seu cabaço e te levar ao céu.

O meu coração batia muito forte! Parecia a nossa fanfarra no sete de setembro! O meu xará estava em ponto de bala e graças a Deus não faiou. Já pensou na primeira vez, na condição de calouro o danadinho não passasse no primeiro teste da sua vida? Eu com certeza ficaria decepcionado com ele e muito triste, mas o danado não negou fogo.

Não durou mais do que quinze minutos, mas para mim parecia que eu estava entrando na eternidade. Eu suava dos pés até a cabeça. Até a minha alma e espírito estavam suados. A minha respiração ofegava mais do que a respiração de um cavalo exausto de tanto galopar.

Provavelmente os meus batimentos cardíacos chegaram a mil por segundo. O calor naquele quarto de luz coberta com papel celofane azul era insuportável.

Ao terminar a noite de estreia, a primeira coisa que vi, foi uma bacia de esmalte branco cheia de água fresquinha, certamente do rio Corrente. Imediatamente lavei o rosto, molhei o cabelo, e, até bebi alguns goles, já que a garganta estava seca. Depois que me refiz do grande exercício físico e mental desprendido naquela noite, me vesti, sai do quarto e lá estava o grande colega Rogério acompanhado de George e João Batista me esperando. Nossa que solidariedade a deles. Solidariedade porra nenhuma! Estavam se certificando de que eu houvesse cumprido a missão de perder a virgindade.

- Lavou o rosto na bacia?

- Claro! Com o calor danado, até tomei uns goles de água.........

Risos total! Por que será que estão rindo tanto? Pensei. Não pude acompanhar o desfecho com o Saulinho e com o Jairo. Tinha que retornar rapidamente para o seio da sociedade. Lembro-me bem que uma rapariga tentou apertar o pinto do Jairo e ele com ares de intelectual e saiu de fininho.

-Ué, cadê o bichinho? Perguntou a rapariga.

Agora voltemos a história da bacia esmaltada com água fresca. Na verdade era uma tradição do brega, as putas deixarem um bacia com água para que os clientes lavassem o pinto após o ato sexual.(Ou a foda mesmo) Não era para lavar o rosto e nem beber goles desta água.

Normalmente os calouros sempre lavavam os rostos nas bacias ao invés de dar banho no bilau. Naquela época tinha alguns nomes como: Rola, pica, têca, cassete. Pinto etc.

Tá justificado o real motivo das risadas do Lega. Ele nunca confessou mas acredito que ele lavou o rosto na bacia na primeira vez. Também acho que Jairo, Saulinho e Kadinha também lavaram o rosto na bacia. Idem para Tonho de Palú, Robertinho, João Batista e em suma , acho que todos os meus contemporâneos lavaram o rosto nas bacias esmaltadas assim que inventaram este sistema de higiene de pinto no brega, Pingo D’Água, a zona que existia na cidade, palco de mortes, violências, romances eternos, e que guardava muitos segredos dos homens da sociedade, e que segredos! Sem dúvidas todos lavaram o rosto nas bacias de esmaltes. Será? ............

Joãozinho de Dona Rosa
Enviado por Jota Kameral em 20/12/2012
Reeditado em 02/06/2021
Código do texto: T4045782
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