LEMBRAR-SE DE NÃO ESQUECER

Se você escreve nas mãos, nos braços, amarra fitinha no dedo, coloca lembrete no celular, se por um acaso deixa recado na porta da geladeira: você é um esquecido assumido. Há ainda aqueles que dizem ter memória fotográfica, no entanto não são capazes de acertar de primeira o nome de um dos filhos num total de dois. O que falar daqueles que se esquecem do inesquecível? Na porta da geladeira de uma amiga um papel sulfite com letras garrafais avisava: “FILHA, NÃO SE ESQUEÇA DE TOMAR O YAKULT”. - inacreditável, pensei! Se fosse na casa de alguém da minha família estaria a seguinte frase: “não tente quebrar o cadeado da geladeira, custou caro!”. Tenho certeza de que isso não é só comigo. Mas deixa pra lá.

Cuidado! Esqueça o celular e vegete o restante do dia, já que sua mulher, seus filhos, amigos, seu chefe, cachorro, a tiazinha que faz amarração para o amor, o pastor, padre e o macumbeiro estão todos dentro do chip pré-pago daquela operadora que quase não funciona. Esqueça a carteira e terá que testar seu poder de sedução no cobrador do ônibus e ver se funciona a promessa: - trago o dinheiro amanhã. Esqueça de responder para sua mulher o famoso “eu também”, e sua vida se transformará numa tempestade tropical nos próximos dias. E como se redimir desse pecado de morte? Somente com trezentos e noventa e nove “eu te amo também”, mas não esqueça: se esquecer de novo, não há mais penitência para perdão. Talvez se andar de joelhos de São Paulo ao Amapá.

Poderia terminar este texto dando àquela lição de moral jogando com seu psicológico, exaltando o lado bom do esquecimento para se libertar das mágoas. Poderia também escrever simplesmente a palavra fim. De alguma forma tenho que finalizar esta crônica, na verdade, o esquecimento faz parte da vida de todos, e acreditem ou não, estou enrolando para finalizar o texto, simplesmente porque esqueci o final desta história.

Eder Tofanelli
Enviado por Eder Tofanelli em 20/12/2012
Código do texto: T4045310
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