DESCOBERTAS

Essa história é verdadeira. É lógico que vou emprestar a ela o colorido dos meus devaneios, mas é essencialmente verdadeira.

Estava lendo uma crônica de uma admirável escritora e poeta, além de maravilhosa amiga(Ceiça o nome dela, minha xará), onde se reportava aos sonhos de infância para o Natal(vale a pena ler) http://www.recantodasletras.com.br/natal/4032837 ) Falava de bonecas e respirava esperança.

A leitura daquele texto imediatamente disparou o gatilho da minha memória, quando eu sonhei bem alto , lá na minha infância com uma boneca, mas uma boneca bem diferente.

Eu tinha lá meus sete anos de idade, quando recebi de presente uma caixa de fazer “mágicas”(truques,banais com cartas de baralho e cordões).

Acho que exatamente naquele momento eu poderia ter criado as minhas asas para sair voando de papel em papel , de letra em letra....Mas eu ainda não tinha descoberto essa “arma poderosa” e então deixei a imaginação fazer festa apenas com a oralidade das palavras,essa coisa difícil e ainda assustadora para mim.(Vou confessar a vocês, que para declamar poemas ou atuar em teatro a timidez briga comigo, me enfrenta e acelera o coração, mas eu insisto e vou... sempre correndo atrás de fortes emoções....)Para falar fora da “arte” então, Meu Deus! é quase uma guerra comigo mesmo! mas um dia eu saio vencedora...)

Voltando à oralidade... Vocês não imaginam de quantas palavras “voadoras” essa caixinha de mágica vestiu a minha voz: Alardeei para os meus amiguinhos mais próximos que aquela caixa mágica me dava poderes , inclusive de ,quando me aborrecessem , transformá-los em animais , ou, metade animal , metade gente(Essa parte me deu até vergonha de contar...Afinal só gostamos de contar o que é digno de aprovação (Risos). Relevem , fantasia de criança( muitos risos).

Mas essa caixinha também me deu poderes lindos: Com ela criei uma boneca do tamanho de um adulto,(assim ela teria liberdade pra suas ações, penso eu) ela era linda ,loira, e poderosa. Falava vários idiomas, conhecia vários países e iria percorrer o mundo acabando com a pobreza, convencendo as pessoas a não mais roubar, a não mentir,(eu não tinha consciência de que aquilo era uma mentira,( contradições próprias de nós humanos) e a não maltratar as outras.

Essa boneca também iria mostrar às pessoas que o amor romântico verdadeiro era possível. (isso me faz lembrar uma declaração de minha irmã de que eu chorava aos quatro anos de idade copiosamente ao ouvir Madrugada chegou de Nubia Lafayette . http://papjerimum.blogspot.com.br/2011/10/nubia-lafayette-uma-das-maiores.html )

Pasmem, minhas amigas da mesma idade acreditavam na existência dessa boneca(como era linda a inocência, o dom do acreditar) e assim acalmavam os seus medos, de ladrões(tínhamos pavor da mulher lendária de sete metros que escalava edifícios).

Um belo dia eu “cresci”(dois meses depois) : Já incomodada com aquela “mentira”,resolvi acabar de vez com aquele sonho e contei a verdade pra minhas amigas.Vocês acreditam se eu disser que choramos juntas?Sim choramos.

Hoje revisitando essa história passo a entender um pouco mais de mim.

Entendo porque descobri cedo que até pra se sonhar se necessita de verdade, que o ilusório não satisfaz.Que a transparência de ser é o que mais realiza... Entendi que o sentimento de liberdade vem do enfrentamento dos medos e não da camuflagem deles , e que sonhos devem ser perseguidos e acreditados independentemente da realidade, e que, com coragem é perfeitamente possível se viver plenamente,sempre...

Eu “tive” a “boneca” mais poderosa e ela não me satisfez. Tive que tirá-la de cena...pra me sentir bem...talvez esse seja o maior poder:sentir-se bem com os próprios passos,ainda que pequenos em relação ao universo, mas grandes em relação a si mesmo.

Entendi que o que chamamos de “mágica” nada mais é ,que o nosso potencial adormecido pelos falsos e ofuscantes poderes...Quer saber? ?Eu acho que em algum lugar do universo aquela boneca existe mesmo, e ela andou me ensinando essas coisas aí...(lágrimas “fortes”)