Imagem: O Pequeno Príncipe
Temos pressa, nós e o mundo...
Acredito que o que interessa está resumido em uma palavra apenas. Uma palavra curta e simples: amor. Há coisas que não são para se entenderem. Esta é uma delas. Só um mundo de amor pode deixar de ter pressa. Só um mundo de amor pode fazer a vida valer a pena. Temos pressa, nós e o mundo... Demasiada pressa e seguimos vivendo, entre encontros e desencontros. Entre avanços e atrasos. Entre sorrisos e lágrimas. Entre verdades e mentiras. E o tempo, senhor de tudo e de todos, continua passando ao nosso lado sem darmos pela sua presença.
Temos pressa, nós e o mundo...
Pressa em acumular bens materiais e fazer cirurgias plásticas para disfarçar imperfeições. Pressa em investir o que se pode na tentativa de atingir a felicidade, não raras vezes sem olhar a meios. Pressa que chegue dezembro para sermos solidários, fazer doações a falsas instituições. Para ouvirmos os sinos da hipocrisia e as luzes que se acendem e apagam nas árvores encantadas e douradas de falsidade.
Temos pressa, nós e o mundo...
Pressa em abrir os muitos facebooks, os muitos twitters, os muitos orkuts e blogues, os muitos posts que falam sobre nada de nada. Temos pressa em receber novos celulares, iPads e iPhones topo de gama. Uma nova televisão, uma blusa com lantejoulas, muitas luzes de néon. Frequentar a melhor das melhores escolas, os melhores bares, restaurantes, lojas com muito ruído mas sem calor humano. E vivemos amassados por tanta informação sem acreditação. Desacreditados vão ficando também os valores genuínos.
Temos pressa, nós e o mundo...
E vamos vivemos anestesiados no poder tecnológico, no bramir do dinheiro, o tempo inteiro. Falamos sobre tudo, sem falarmos de nada. Julgamos saber tudo quando, afinal, somos ignorantes da nossa própria condição. Habituámo-nos à personagem e não à pessoa. Ostentamos cobardemente humildade e serviço, bondade e modéstia. Colocamo-las com orgulho na lapela do ego e vamos convivendo, alegremente, numa sociedade de taras, palmadinhas nas costas, corruptos e sociopatas.
Temos pressa, nós e o mundo...
Sabemos de cor as lições do Pequeno Príncipe e as frases soltas de Osho e Madre Teresa de Calcutá, que nos ensinam a ser amáveis e cordiais, mas não pessoas, pois insistimos em continuar sendo apenas humanos. Animalescamente humanos. Os textos que decoramos, sejam de Obama ou de Dalai Lama, jamais nos ensinarão a soltar amor nas palavras, por mais belas que sejam. E sempre nos faltará Leveza. Sentimento. Aproximação. Encontro. Aquele sentimento, aproximação e encontro em que saímos de nós. De nós para os outros, com sinceridade. Com vontade. Em que não somos escravos do mundo, do politicamente correto e dos interesses dos (falsos) amigos. Falta-nos a leveza dos gestos simples. De não querermos ser exibicionistas a cada gesto, a cada ideia, a cada situação.
Temos pressa, nós e o mundo...
Mas o tempo sempre será senhor do nosso viver, ainda que viver esteja além do tempo. E tudo segue, com pressa de ser, esquecendo que ir além faz parte do viver. E cansados que sempre estamos, não aprendemos a entender a vida. Os encontros e desencontros. Os avanços e os atrasos. As verdades e as mentiras. O frio da solidão e o calor de um abraço. Esquecemos até... De como é bom abraçar. De como é bom beijar. Esquecemo-nos até de fazer sexo e, quando fazemos, esquecemos de apreciar cada momento, esquecemos o prazer, pois vivemos correndo, sempre cheios de pressa. E os sinos da falsidade continuarão tocando, porque sempre haverá estrelas que não poderão cintilar. Porque haverá sempre famílias divididas, dispersas ou esquecidas. Haverá sempre meninos que chorarão a ausência dos pais e pais que chorarão a falta de seus filhos. Haverá sempre esquecidos por entre as douradas luzes da hipocrisia. Quem diria... Que haverá sempre brinquedos caros abandonados nas lixeiras à espera que uma mãozinha magra e suja os abrace.
Temos pressa, nós e o mundo...
E não mudamos apenas porque o ano vai ser novo! Mudamos porque chega um dia em que a vida resolve bater-nos na cara. Ou quando a nossa consciência nos diz que devemos ser mais e sempre mais, humanos! E ser mais humano não é deixar cair os nossos legítimos interesses e direitos, mas usá-los como quem sabe que possui uma força que deve ser habilmente conduzida. É ser livre e pequeno, pois só sendo livres e pequenos poderemos amar os outros com sinceridade, com desprendimento de carinho, de ternura, de colo e de amor que damos, não apenas num dia ou numa noite, mas durante o ano inteiro.
Temos pressa, nós e o mundo...
E mergulhados nessa pressa vamos... Esquecendo de ver o horizonte engalanado com tantos detalhes mágicos, azuis e dourados. Esquecendo de ver e de sentir a leveza da água que salpica o nosso rosto depois de um dia de sol abrasador. Ignorando os afetos que deveriam fazer da vida um eterno presente, e tendem a ir embora depressa também, com a pressa que o mundo tem...
Temos pressa, nós e o mundo...
Estou quase terminando este texto e continuo a acreditar que o que interessa está resumido em uma palavra apenas. Uma palavra curta e simples: amor! Com a presença do amor em nossa vida carregaremos tesouros. Indizíveis tesouros que sempre levaremos no coração. Pelo resto de nossos dias, que não terão valido a pena se não nos tivermos doado. Seremos felizes quando as nossas mãos, calejadas ou não pelo trabalho, servirem mais para ajudar do que para atirar pedras. Quando descruzarmos os braços diante do sofrimento alheio e a humildade se sobrepuser à vaidade e ao egoísmo. Seremos felizes quando descobrirmos finalmente, que somos todos passageiros do mesmo barco.
Temos pressa, nós e o mundo...
E continua sendo necessária a aprendizagem do amor, mais do que a simples empatia da solidariedade. Ou seremos meros filantropos elogiando aos nossos amigos os nossos atos. Correndo o risco de me repetir e de desapontar algumas pessoas que me leem, reitero que a inteligência não faz um ser humano ser uma pessoa. É a pessoa que se singulariza. Se unifica. Se torna especial. Se depura. E sempre encontraremos doutores que são umas bestas, e pessoas simples, que sem nunca terem estudado, são sábios...
Temos pressa, nós e o mundo...
Urge que o amor seja valorizado. Compreendido. Praticado. Vivemos um tempo em que as pessoas já quase não se apaixonam de verdade. Já ninguém aceita amar sem uma razão. O amor passou a ser um contrato. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. Sinto saudades do tempo do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor romântico, do amor doente, da saudade e das lágrimas sem fim. Os mais jovens que me perdoem, mas estou farta de ver esses amores modernos. Nunca vi namorados tão embrutecidos e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia. Acomodam-se no “ficar”, nas milhentas mensagens de celular, no iPad, no netbook. Já não se vê romance, abraços, flores, encontros nos bancos de jardim.
E continuamos tendo pressa, muita pressa, nós e mundo…
O amor é mais bonito que a vida. Porque sem amor a vida não tem interesse. E isso não é para se entender… Há coisas que não são para ser entendidas. Esta é uma delas. Só um mundo de amor pode deixar de ter pressa. Só um mundo de amor pode fazer a vida valer a pena. O coração agradece, o corpo e a mente também. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também. Porque sem amor somos como uma terra seca. Como um tronco de árvore abatida, sem vida. Sem amor somos amargos, vazios de emoção. Perde-se a noção de felicidade. Perde-se a confiança, o desejo de compartilhar a vida que depressa irá, também, com a pressa que o mundo tem...
Meus desejos para 2013 não são diferentes dos desejos das outras pessoas. Desejo a todos que por aqui passarem um Bom Ano 2013... e para mim também, sem a pressa que o mundo tem. Agradeço a todos que têm estado comigo ao longo desta caminhada, aí e aqui. A todos eu levo comigo, no coração, com muito carinho, nessa viagem rumo a 2013.
Ana Flor do Lácio