À LUZ DE VELAS

O final do ano está aí, batendo à nossa porta.

Começo a semana com falta de energia elétrica, justamente quando estou sozinha em casa, e à noite. Meu programa do History , foi-se.

Tento manter a calma (detesto escuridão) afinal, tenho minha mini lanterna de led bem pertinho na gaveta do meu criado mudo (ainda bem que é mudo rsrsrs. Xiii... dei pra falar bobagem...).

Pego a dita cuja, respiro fundo e vou lá para a cozinha, vasculhar a gaveta do armário, onde imagino ter velas. E as acho, ufa! Pego duas e a caixa de fósforos na outra gaveta.

Volto para meu quarto, sem ousar olhar para os lados.

Passo direto e reto pela sala.

Chego ao quarto e....onde apoio as velas? O jeito é ir de volta para a cozinha.

Lá vou eu, sem olhar para as sombras (ah, meu Deus, não que eu seja medrosa, mas minha fantasia voa solta em situações assim....).

Escolho onde apoiar as ditas cujas. Decido por duas tampas de vasilhas descartáveis.

Volto ao quarto. Acendo as duas, ponho uma no criado mudo e outra no móvel à minha frente.

Hum.....tá meio escuro ainda. Melhor pegar mais velas.

Descubro mais duas e vejo que são as últimas.

Calma, acho que a luz volta logo. Ponho uma em cima do mesmo móvel em frente. Afasto mais um pouco, olho, avalio e a deixo mais distante , uma em cada ponta. Avalio novamente, acho que está bom.

A última, coloco no móvel ao lado direito da cama. Afasto o abajur(seu inútil, devia ter pilha!) e dou lugar de destaque para a senhorita iluminada.

Pronto! Até que ficou legal. Deu um ar ainda mais aconchegante ao meu quarto.

Gosto de meu quarto. Uma delícia onde me refugio e me sinto bem. Começo a me dar conta dos detalhes....os dois castiçais com velas redondas, coloridas e perfumadas. E não é que esqueci de acendê-los? Acostumei a vê-los como parte da decoração. Esqueci da utilidade, coitados!

Olho os móveis escolhidos a dedo ,os quadros, do jeito que eu quis. Minha cortina, linda, com ponteiras redondas, esculpidas em acrílico lapidado.

Minha tv, num painel na parede. Também de led, escolhida com carinho.

O armário embutido, os tapetes. Meu ar condicionado! Companheirão nos dias e noites muito quentes.

Ah...de repente, percebi que estava me sentindo muito bem, relaxada. Arrisquei uma olhada lá fora...tudo às escuras.

Até achei bonito, diferente.

Num impulso de moleca, brinquei de iluminar a rua, sete andares abaixo, com minha pequena lanterna.

Fiquei um bom tempo ali. Decidi ler um pouco. Pego o livro na gaveta e o ajeito à luz das velas.

Esqueci do programa de tv , esqueci da escuridão.

Deixo o livro de lado e começo a pensar em muitas coisas.

E lembrei, como nunca, de mim mesma.

Com prioridade para minhas filhas e neto, meu trabalho, meu sonho da viagem ainda não realizada....

Não é que eu tenho muita coisa pra contar, muita coisa pra registrar? Vem uma satisfação boa, tranquila.

Sou o que chamam de “mignon”, ou seja, não sou alta.

Mas agora me sinto uma gigante, com tantas conquistas, quantos “encarar as lutas de frente”.

À luz das velas, faço planos. Descubro que tenho um “arquivo” inesgotável deles.

Percebo a essência do “estar de bem comigo mesma”.

Então....as luzes se acendem.

Com elas vão-se os pensamentos, o aconchego de meu quarto, meus planos recém desenhados.

Nesses quase quarenta minutos de escuridão, eu acendi a luz interna, esquecida dentro de mim.

Percebi o quanto, nesta vida, nos acostumamos com coisas que presumimos indispensáveis.E que são absolutamente dispensáveis. Apenas materiais, substituíveis portanto.

Reconheço a verdade da frase “ É simples ser feliz. Difícil mesmo é ser tão simples”.

O telefone toca.

- Alô? Mãe, tudo bem?

- Tudo bem, filha, mas acho que vou querer muitas outras noites assim, à luz de velas.

Do outro lado, apenas o silêncio....

Nuria Monfort
Enviado por Nuria Monfort em 19/12/2012
Reeditado em 21/12/2012
Código do texto: T4044110
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