Silenciou!
Ele tinha muito para falar. Queria gritar seus sentimentos, expor suas dores.
Ci-ca-tri-zes.
Havia muito a ser dito e enquanto seus dedos percorriam o teclado, sentiu congestionar na garganta cada palavra que tentava vir à tona. Cada sentimento reprimido aflorar pelas janelas da alma. Sentiu ainda na garganta as palavras azedarem e resolveu se calar.
Silenciar.
Talvez não fosse o momento certo, a ocasião oportuna. Talvez faltasse um pouco mais de tempo para que cada vogal e consoante chegasse ao ponto certo. Talvez faltasse apenas um cravo em cima dos "is" ao invés dos pingos, para cortar esse gosto meio azedo ou amargo das palavras.
A tonicidade dos seus sentimento refletiam nos olhos, eram sentidas na pele, atravessavam o peito. Era intenso, mas desapegava-se em fração de segundos ao sentir-se ameaçado. Ao sentir-se invadido.
Seu silêncio adoçava as palavras ainda um tanto aguadas. Resguardava e conservava em banho maria os sentimentos em fase de amadurecimento e preparo. Vez ou outra engasgava-se e vomitava cada palavra formando frases de quem por muito tempo esteve em silêncio. As ânsias por expressar-se sempre eram mais fortes e causavam uma pontada aguda no lado esquerdo do peito.
Pressionavam o coração, extraíam um sumo de cor vermelha um tanto pastoso.
Ele era movido por essa necessidade de contar as paredes seus amores, e lançar ao vento suas inseguranças. Conversava com as estrelas. E mesmo em silêncio conflitante, relatava a si mesmo histórias de alguém que sonhava com uma vida melhor. Sonhava em caminhar debaixo da neve.
Em seu silêncio ele esperava, aprendia, crescia.
Amadurecia.
Entendia que existia outras formas de contar o que sentia. Outras formas de gritar. E que mesmo calado o seu silêncio não deixava de ser um grito calado, sufocado, adiado outrora esquecido apenas de ser dado.