Porque é Natal
Há alguns dias, conversava com uma amiga e percebi uma tristeza escondida no cantinho de seus lábios e em seu olhar. Decidi indagar:
- Por que você está com esse arzinho de tristeza?
- Porque é Natal. – ela me respondeu.
Naquele momento, para dissipar um pouco de seu sentimento, falei que Natal é tempo de alegria. Disse que eu gosto desse clima de festas, de luzes, de compras. Disse que adoro ver ruas, casas e lojas enfeitadas. Também falei que adoro ver os Papais Noéis espalhados por todos os lugares, sejam homens fantasiados ou bonecos, sempre atraindo a atenção das crianças e até de adultos como eu. Contei sobre minha listinha de presentes (listinha mesmo, cada ano ela diminui um pouquinho, não por falta de dinheiro exatamente, mas por falta de gente para presentear) que, como sempre, acabo deixando pra última hora e aí é um corre-corre. Ela escutou, pacientemente, tudo o que eu disse, mas não mudou sua expressão. Também não explicou seus motivos. Então nos despedimos com um abraço forte e cada uma seguiu seu caminho.
Quando cheguei à minha casa, fiquei pensando em minha amiga: “Por que será que ela não gosta de uma das épocas mais bonitas do ano?” E aí me dei conta de que eu, apesar de gostar de verdade de todo movimento e da atmosfera do Natal, também fico meio carente. O que me faz carente é a distância das pessoas que amo, das que eu mais amo. Nessa época fico mais fragilizada, tudo me emociona, até as propagandas da televisão.
Minha mente se enche de lembranças de Natais antigos, quando a casa ficava cheia de familiares e amigos, a mesa era farta, a alegria contagiante. As crianças pequenas, eufóricas, à espera do Papai Noel com seus presentes, e o danado do velhinho que não se deixava ver, provocava a indignação dos pequenos. Lá em casa tínhamos um esquema: alguém distraía os meninos, eu dava a volta pelos fundos, entrava pela porta da frente e colocava os presentes sob a árvore. Ao sair, tocava a campainha e voltava correndo para o meu posto na cozinha como se jamais tivesse saído de lá. Eles corriam para a sala quando ouviam a campainha, gritando: “É ele! É ele!”. A partir daí era uma loucura: papéis de presentes rasgados, risos, cada um exibindo o seu brinquedo e já colocando para funcionar. Certa vez, meu caçula, com uns cinco anos, disse inconformado: “Não é possível, não dava tempo dele sumir! Eu abri a porta e fui ver se o trenó tava lá, não tava. Como ele consegue ser tão rápido?” E aí a gente contava um monte de historinhas para a magia não se perder.
Eu passava o dia inteiro na cozinha (nem sempre tive empregada). Por mais trabalho que tivesse, que ficasse horas e horas entre tabuleiros e panelas, assando, cozinhando, montando pratos, enfeitando mesa, organizando a louça e os talheres, enfim, eu me divertia. Não havia cansaço. Ao contrário, sentia uma grande alegria e muita energia, esperando a hora de servir para ouvir os elogios de todos.
Isso tudo ficou para trás, infelizmente. Nos últimos anos, meu marido e eu temos passado sozinhos nossas noites de Natal. Nossos filhos (os meus e os dele, do primeiro casamento) vêm um pouquinho, nos dão um presentinho e um abraço e vão para a sua outra família, ou para a casa das namoradas. Alguns de nossos amigos íntimos já não moram mais na cidade, outros passam com suas famílias ou com outros amigos. Há quatro anos perdi minha mãe e, nos dois últimos anos, faleceram dois de meus irmãos. Pouco a pouco a vida foi levando meus amores, por pouco tempo, por muito tempo ou para sempre.
No Natal passado ainda tínhamos a companhia de nossa cadelinha, a Shana. Mas nós a perdemos em junho desse ano. Ela morreu depois de doze anos vivendo conosco. Ela era uma pequena grande companheira e fazia parte de nossa ceia de Natal, pois apesar de ficarmos só nós dois, meu marido e eu, jamais deixei de fazer uns quitutes, de enfeitar a mesa, de acender as velas, de brindar com um bom vinho. Shana, com seus olhinhos arregalados, ficava à espera de um naco de carne ou de outra comida, posicionada no tapetinho da porta da cozinha. Ela era uma graça!
Sei que não devo me lamentar, que não devo ficar triste porque, apesar de todas as ausências, há uma presença que é a mais importante de todas: Jesus. Tenho certeza de que ele está sempre conosco. Em nossa casa há harmonia, estamos com saúde, não precisamos materialmente de nada. Além disso, devo me lembrar de que existem milhares, ou até milhões, de pessoas no mundo que não têm ninguém que passe com elas a noite de Natal. E ainda há outras que padecem de outros males como doenças, falta de um teto, falta de alimento, enfim falta de tudo.
Não posso permitir que minha carência e saudade das pessoas queridas, me impeçam de continuar acreditando na magia do Natal e que, na verdade, o sentido da comemoração é o nascimento da “pessoa” mais importante do mundo e ela não faz questão de festa. Faz questão é de estarmos felizes e em paz.
Porque é Natal, devo me esforçar para compreender que é importante que nossos filhos deem um pouco de carinho e atenção para as outras pessoas que são tão importantes para eles quanto nós. Assim como nossos outros familiares e amigos têm outras pessoas com quem compartilhar.
Porque é Natal, não posso deixar de agradecer a Deus por ter tido a oportunidade de ter vivido tantos outros Natais alegres e dos quais agora tenho boas e doces recordações.
Porque é Natal, devo abrir meu coração para receber as bênçãos do Filho de Deus que tão generosamente habitou a Terra para trazer ao Homem mensagens de amor e de paz.
E, finalmente, porque é Natal, vou preparar um delicioso almoço no dia vinte e cinco, porque aí sim, nossos filhos vêm, cheios de alegria e de apetite, para brindar conosco.
Desejo a você que leu o meu texto: Feliz Natal!
Jorgenete Coelho
- Por que você está com esse arzinho de tristeza?
- Porque é Natal. – ela me respondeu.
Naquele momento, para dissipar um pouco de seu sentimento, falei que Natal é tempo de alegria. Disse que eu gosto desse clima de festas, de luzes, de compras. Disse que adoro ver ruas, casas e lojas enfeitadas. Também falei que adoro ver os Papais Noéis espalhados por todos os lugares, sejam homens fantasiados ou bonecos, sempre atraindo a atenção das crianças e até de adultos como eu. Contei sobre minha listinha de presentes (listinha mesmo, cada ano ela diminui um pouquinho, não por falta de dinheiro exatamente, mas por falta de gente para presentear) que, como sempre, acabo deixando pra última hora e aí é um corre-corre. Ela escutou, pacientemente, tudo o que eu disse, mas não mudou sua expressão. Também não explicou seus motivos. Então nos despedimos com um abraço forte e cada uma seguiu seu caminho.
Quando cheguei à minha casa, fiquei pensando em minha amiga: “Por que será que ela não gosta de uma das épocas mais bonitas do ano?” E aí me dei conta de que eu, apesar de gostar de verdade de todo movimento e da atmosfera do Natal, também fico meio carente. O que me faz carente é a distância das pessoas que amo, das que eu mais amo. Nessa época fico mais fragilizada, tudo me emociona, até as propagandas da televisão.
Minha mente se enche de lembranças de Natais antigos, quando a casa ficava cheia de familiares e amigos, a mesa era farta, a alegria contagiante. As crianças pequenas, eufóricas, à espera do Papai Noel com seus presentes, e o danado do velhinho que não se deixava ver, provocava a indignação dos pequenos. Lá em casa tínhamos um esquema: alguém distraía os meninos, eu dava a volta pelos fundos, entrava pela porta da frente e colocava os presentes sob a árvore. Ao sair, tocava a campainha e voltava correndo para o meu posto na cozinha como se jamais tivesse saído de lá. Eles corriam para a sala quando ouviam a campainha, gritando: “É ele! É ele!”. A partir daí era uma loucura: papéis de presentes rasgados, risos, cada um exibindo o seu brinquedo e já colocando para funcionar. Certa vez, meu caçula, com uns cinco anos, disse inconformado: “Não é possível, não dava tempo dele sumir! Eu abri a porta e fui ver se o trenó tava lá, não tava. Como ele consegue ser tão rápido?” E aí a gente contava um monte de historinhas para a magia não se perder.
Eu passava o dia inteiro na cozinha (nem sempre tive empregada). Por mais trabalho que tivesse, que ficasse horas e horas entre tabuleiros e panelas, assando, cozinhando, montando pratos, enfeitando mesa, organizando a louça e os talheres, enfim, eu me divertia. Não havia cansaço. Ao contrário, sentia uma grande alegria e muita energia, esperando a hora de servir para ouvir os elogios de todos.
Isso tudo ficou para trás, infelizmente. Nos últimos anos, meu marido e eu temos passado sozinhos nossas noites de Natal. Nossos filhos (os meus e os dele, do primeiro casamento) vêm um pouquinho, nos dão um presentinho e um abraço e vão para a sua outra família, ou para a casa das namoradas. Alguns de nossos amigos íntimos já não moram mais na cidade, outros passam com suas famílias ou com outros amigos. Há quatro anos perdi minha mãe e, nos dois últimos anos, faleceram dois de meus irmãos. Pouco a pouco a vida foi levando meus amores, por pouco tempo, por muito tempo ou para sempre.
No Natal passado ainda tínhamos a companhia de nossa cadelinha, a Shana. Mas nós a perdemos em junho desse ano. Ela morreu depois de doze anos vivendo conosco. Ela era uma pequena grande companheira e fazia parte de nossa ceia de Natal, pois apesar de ficarmos só nós dois, meu marido e eu, jamais deixei de fazer uns quitutes, de enfeitar a mesa, de acender as velas, de brindar com um bom vinho. Shana, com seus olhinhos arregalados, ficava à espera de um naco de carne ou de outra comida, posicionada no tapetinho da porta da cozinha. Ela era uma graça!
Sei que não devo me lamentar, que não devo ficar triste porque, apesar de todas as ausências, há uma presença que é a mais importante de todas: Jesus. Tenho certeza de que ele está sempre conosco. Em nossa casa há harmonia, estamos com saúde, não precisamos materialmente de nada. Além disso, devo me lembrar de que existem milhares, ou até milhões, de pessoas no mundo que não têm ninguém que passe com elas a noite de Natal. E ainda há outras que padecem de outros males como doenças, falta de um teto, falta de alimento, enfim falta de tudo.
Não posso permitir que minha carência e saudade das pessoas queridas, me impeçam de continuar acreditando na magia do Natal e que, na verdade, o sentido da comemoração é o nascimento da “pessoa” mais importante do mundo e ela não faz questão de festa. Faz questão é de estarmos felizes e em paz.
Porque é Natal, devo me esforçar para compreender que é importante que nossos filhos deem um pouco de carinho e atenção para as outras pessoas que são tão importantes para eles quanto nós. Assim como nossos outros familiares e amigos têm outras pessoas com quem compartilhar.
Porque é Natal, não posso deixar de agradecer a Deus por ter tido a oportunidade de ter vivido tantos outros Natais alegres e dos quais agora tenho boas e doces recordações.
Porque é Natal, devo abrir meu coração para receber as bênçãos do Filho de Deus que tão generosamente habitou a Terra para trazer ao Homem mensagens de amor e de paz.
E, finalmente, porque é Natal, vou preparar um delicioso almoço no dia vinte e cinco, porque aí sim, nossos filhos vêm, cheios de alegria e de apetite, para brindar conosco.
Desejo a você que leu o meu texto: Feliz Natal!
Jorgenete Coelho