CRÔNICA – Será que seu amigo é otário!
CRÔNICA – Será que seu amigo é otário! – 18.12.2012
Diariamente aprendemos lições e lições nesta vida de meu Deus! Contou-me meu pai noutro dia que um pseudo amigo estava para publicar um livro sobre suas composições poéticas, que, aliás, de muito bom gosto, até porque era um sujeito muito competente nos versos que compunha, todavia um autêntico grosseiro orgulhoso e dono do mundo.
Pois bem, meu velho, que adora fazer filantropia, assim como amigos, e uma vez que o autor não tinha dinheiro nem pra adentrar a porta da editora, a fim de mandar imprimir aquelas formidáveis obras (tristonhas, sempre pra baixo, embora belas num sentido global, mas de vez em quando ele produzia textos alegres), adquiriu antecipadamente seis exemplares, tendo remetido o pertinente valor, que de tão ínfimo não vale sequer ser mencionado.
Pois bem, meu pai nunca fora poeta e nunca escreveu coisa alguma, salvo correspondências oficiais, mas enveredou pelos caminhos do aprendizado na poesia, no cordel e em outras modalidades de escrita, incentivado por pessoas experientes, que aos poucos foram sendo lidos, aprovados por uns e criticados por outros autores, tudo de maneira construtiva, com raras exceções. Meu pai tinha esse cidadão como um exemplo na arte da poesia, mas por conta de demonstrar ser mal educado, as relações foram cortadas.
Aconteceu o seguinte: Num cordel feito em parceria de meu velho com uma grande escritora do RL, esse pediu pra que o compositor de que aqui se trata fizesse um comentário, a fim de prestigiar a parceria, todavia ele respondeu grosseiramente que não o faria, até porque iria com isso ferir a sensibilidade da autora, segundo a interpretação pouco inteligente dele. Aliás, meu querido, meu velho e meu amigo sempre fez isso ao longo do tempo em que está por estas bandas, mas anonimamente sem que o destinatário o soubesse.
Pra quem não sabe, meu pai é o Ansilgus, um homem por demais honesto, de um passado inabalável, simples, autêntico e humilde. Na verdade eu nem sei por que ele me contou isso, mas penso que essa passagem estava assim como presa em sua garganta, sendo necessário soltá-la, a fim de minorar a angústia, pois ele detesta quando consegue fazer um inimigo.
Lembro-me que meu velho guru até mesmo com telas de sua autoria presenteou alguns amigos daqui, uns bem agradecidos, outros bem esquecidos, mas isso é mesmo o nível da educação que vigora neste país, onde os advogados e médicos formados, por exemplo, não conseguem ser aprovados nas provas de competência a que são submetidos pelas suas associações; a mídia está aí publicando esse fato todos os dias; nem mesmo o STF escapa das críticas bem fundamentadas que os jornalistas publicam em várias mídias... isso é uma vergonha...
Claro que ele ajudou várias pessoas a incrementar a venda de seus livros, mas sempre sem qualquer interesse escuso, até porque essa não foi a formação que tivera de meus avós, pessoas pobres, porém meticulosas. Aliás, meu guru, quando menino, chegou a pedir esmolas, carregar frete nas feiras livres, pescar siri numa das pontes do Recife, mas nada disso afetou a sua formação como homem limpo e trabalhador.
Já estou me alongando muito, todavia não era esse o meu propósito, salvo o de frisar que nunca pense que seu amigo é um trouxa, um otário, ou insignificante, pois decerto isso se aplica a você. Reafirma-se aqui que meu genitor não faz qualquer questão de ser comentado, pois se contenta apenas com as leituras, que já ascendem a 177 mil, em pouco mais de três anos...
Meu abraço, bom Natal para todos. Meu pai está enfermo e não tem podido comparecer pessoalmente nesta escrivaninha. Parte deste texto foi ditada por ele, que pede desculpas pelos erros.
Georgegus.