O que queremos para o Natal?
Uma coisa que eu sempre quis ganhar no Natal, mas nunca ganhei: um espremedor de frutas, coisinha atoa, maquinazinha simples que custa dois reais, da ora na hora de espremer limão ou laranja.
No Natal e ano novo a gente quer mesmo é viver novas experiências ou reciclar as velhas. Quando eu tinha dezessete anos, ficava preocupado com a vida: vou viver de que, se não sei fazer nada? Quarenta anos depois, continuo sem saber, mas arrumei um emprego e consegui me aposentar.
É daquela época um amigo velho que também nunca acertou na vida. Desorganizado, gastador, impaciente com resultados, imprevidente e também sem muito talento. Formamos uma dupla de perdedores. Mas o cara é bom de imaginação.
Velozão já tentou de tudo. Já abriu umas seis padarias, já tentou fabricar e vender perfume, foi construtor, ator, professor, vendedor de picolé, bancário, securitário, porteiro de prédio no Rio de Janeiro, vendedor de galinha de granja e agricultor. Já me chamou para abrir uma loja de peixes, uma rádio comunitária, um time de futebol amador, um bloco de carnaval, um puteiro em Itabaiana, um jornal de bairro e uma agência de publicidade. Certa vez insistiu que devíamos comprar horário na televisão de João Pessoa para entrevistar gente rica e besta.
É meu novo sócio no jornal “Tribuna do Vale”, experiência falida há dez anos. Está com ideias mirabolantes. Acho que Velozão é algum tipo de gênio incompreendido. Com tempo de sobra, já que ambos somos aposentados, vamos nos dedicar a esse projeto com a mesma fé de todos os empreendimentos que começamos e abandonamos pela vida afora. O cara é formado em Administração. Tem currículo, pelo menos já tentou ganhar a vida. Se não deu certo, paciência...
Nossa sociedade promete. Velozão não tem certeza, mas, pelos seus cálculos, vamos revolucionar a imprensa interiorana da Paraíba do Norte e ganhar muita grana. E isso será mesmo uma façanha, já que jornal impresso é um bicho em extinção. Entretanto, o que vale é a intenção e a fé na vida. Prejuízo faz parte.
Eu não falo da vida do meu compadre Velozão porque a minha não é exemplo pra ninguém. Já dizia o filósofo Ameba: “Com algumas pessoas você perde tempo, com outras, você perde a noção do tempo.”
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