O vermelho de um dia de trabalho (Parte II)
O menino do peixe vermelho
Após questionar minha humanidade ou a falta dela sem muito sucesso nas respostas até então, mais um simples acontecimento me mostrou que as minhas duvidas poderiam se estender.
Já estava melhor. Era quase meio dia. Hora de ir embora para casa. Quando vi um garotinho, parecia ter a mesma idade que meu irmão mais novo, entre 7 e 9 anos, aproximando-se com três peixes de coloração avermelhada. Parou um homem que estava passando por perto e lhe oferecendo os peixes. O homem não quis. Entrou e me ofereceu os peixes por uma bagatela. Como sabia que já tinha comida em casa e não seria nada higiênico comprar o peixe sem procedência até as mãos do garotinho, não o comprei, mas, ao olhar nos olhos do garoto maltrapilho, comprei sem pagar sentimentos de piedade e angustia. Sentia-me mal por não conseguir trata-lo sem diferença, mas, não tive propiamente culpa, meus sentimentos se afloraram quando olhei em seus olhos e vi a inocência de uma criança ainda pura. Geralmente não me deixo comover, pois, sei que isso só seria hipocrisia sentimental do meu subconsciente, mas, dessa vez foi diferente. Quando vejo garotos de sua idade trabalhando, pedindo esmolas ou simplesmente vagando pelas vielas da cidade não me comovo, por saber que o determinismo que estudei no inicio do ano nas aulas de filosofia poderia ser o causador dessas problemáticas, fazendo com que os mesmos, por terem a infância retida ficassem frios e cínicos, e isso me fazia ignora-los facilmente, como modo de não envolvimento.
O garoto me fez abrir feridas já cicatrizadas (pensava eu até então) sobre o porquê de tanta desigualdade? mas, rapidamente voltei a mim, lembrando-me do que me ensinaram na caixa fechada chamada escola e sobre outros pensamentos que coli fora da caixa. Em seguida pensei de novo da mesma forma: “porque eu tenho liberdade de comprar, quere ou não, enquanto ele esta preso na falta de oportunidades?” novamente voltei a mim. E vi que essa manipulação sentimental que fazia comigo mesmo não iria levar a respostas concretas.
O garoto ofereceu os peixes ao açougueiro que lá estava a trabalhar. Ele já acostumado com a cena de crianças maltrapilhas, disse que não queria, e ainda satírico questionou-lhe com amarelo sorriso na fronte: “ Qual é o mais bonito: pedir ou roubar?”. O garotinho com voz fina e inocente respondeu sem intender o motivo da pergunta ( a pergunta não tinha motivo eminente mesmo), com aquela doce voz infantil: “ Pedir...”. Meus olhos lacrimejaram, imaginando que talvez daqui com um tempo, a vida, escolhas e companhias que viriam pela frente fizessem essa resposta mudar. Logo voltei a mim e deixei de tolice. Manipulação sentimental me levaria a algum lugar? Meus poemas e textos perderam sentido por um momento. Depois tudo voltou ao normal e fui para casa com duvidas que pretendo responder com o tempo.
O menino do peixe vermelho
Após questionar minha humanidade ou a falta dela sem muito sucesso nas respostas até então, mais um simples acontecimento me mostrou que as minhas duvidas poderiam se estender.
Já estava melhor. Era quase meio dia. Hora de ir embora para casa. Quando vi um garotinho, parecia ter a mesma idade que meu irmão mais novo, entre 7 e 9 anos, aproximando-se com três peixes de coloração avermelhada. Parou um homem que estava passando por perto e lhe oferecendo os peixes. O homem não quis. Entrou e me ofereceu os peixes por uma bagatela. Como sabia que já tinha comida em casa e não seria nada higiênico comprar o peixe sem procedência até as mãos do garotinho, não o comprei, mas, ao olhar nos olhos do garoto maltrapilho, comprei sem pagar sentimentos de piedade e angustia. Sentia-me mal por não conseguir trata-lo sem diferença, mas, não tive propiamente culpa, meus sentimentos se afloraram quando olhei em seus olhos e vi a inocência de uma criança ainda pura. Geralmente não me deixo comover, pois, sei que isso só seria hipocrisia sentimental do meu subconsciente, mas, dessa vez foi diferente. Quando vejo garotos de sua idade trabalhando, pedindo esmolas ou simplesmente vagando pelas vielas da cidade não me comovo, por saber que o determinismo que estudei no inicio do ano nas aulas de filosofia poderia ser o causador dessas problemáticas, fazendo com que os mesmos, por terem a infância retida ficassem frios e cínicos, e isso me fazia ignora-los facilmente, como modo de não envolvimento.
O garoto me fez abrir feridas já cicatrizadas (pensava eu até então) sobre o porquê de tanta desigualdade? mas, rapidamente voltei a mim, lembrando-me do que me ensinaram na caixa fechada chamada escola e sobre outros pensamentos que coli fora da caixa. Em seguida pensei de novo da mesma forma: “porque eu tenho liberdade de comprar, quere ou não, enquanto ele esta preso na falta de oportunidades?” novamente voltei a mim. E vi que essa manipulação sentimental que fazia comigo mesmo não iria levar a respostas concretas.
O garoto ofereceu os peixes ao açougueiro que lá estava a trabalhar. Ele já acostumado com a cena de crianças maltrapilhas, disse que não queria, e ainda satírico questionou-lhe com amarelo sorriso na fronte: “ Qual é o mais bonito: pedir ou roubar?”. O garotinho com voz fina e inocente respondeu sem intender o motivo da pergunta ( a pergunta não tinha motivo eminente mesmo), com aquela doce voz infantil: “ Pedir...”. Meus olhos lacrimejaram, imaginando que talvez daqui com um tempo, a vida, escolhas e companhias que viriam pela frente fizessem essa resposta mudar. Logo voltei a mim e deixei de tolice. Manipulação sentimental me levaria a algum lugar? Meus poemas e textos perderam sentido por um momento. Depois tudo voltou ao normal e fui para casa com duvidas que pretendo responder com o tempo.