Crônica de uma vida a dois (Virgílio e Francine)
O despertador toca, toca, toca e eu desperto. Desligo-o com um só tapa enquanto Francine se levanta e vai pro chuveiro. Ela liga o radio e o secador de cabelos ao mesmo tempo e ainda nua, volta cantarolando “Se eu pudesse falar com Deus!” Deita na cama, me abraça, toca minhas costas com as pontas frias e úmidas de seus mamilos e me faz estremecer. Dá um beijo molhado de creme dental na minha orelha e sussurra baixinho: – Sentiu saudadinha de mim, sentiu? Depois, dá um pulo da cama, abre o guarda roupas e começa a escolher e a jogar blusas e vestidos sobre mim. Os toc, toc, toques de seus saltos altos zanzando pelo quarto parecem ecoar pelo prédio. Uma pausa em frente ao espelho e ela se aproxima, deixa cair suas madeixas sobre o meu rosto, me beija de leve por causa do batom e assopra palavrinhas na minha boca: – Você vai ficar bem? Me liga na hora do almoço! Eu te amo….tchau! Ouço o tilintar de chaves na porta e silêncio. Um pingo se desprende do chuveiro e ao cair sobre o piso, como uma bomba, começa a detonar pensamentos e mais pensamentos na minha mente. Lembro-me de que estou vivo, desempregado e que preciso me levantar. Sobreviver maus momentos. Talvez chorar, me sentir inútil, desesperado, deprimido, solitário, sem amigos. Não importa. Preciso sair desta cama e lutar. Se não por mim, por Francine.(Walter Sasso) (Autor dos livros "Dobra Púrpura" e "Sem Denise - Amazon)