Um registro de nascimento
Sempre achei que o nosso nome é um dos bens de maior relevância em nossa vida, até porque temos de carregá-lo para sempre - uma marca registrada. Algo que nos distingue dos outros. Pensando nisso escolhi, para minhas filhas, nomes comuns.
Lembrei-me de quando fui registrar minha filha mais velha, um cidadão, que estava logo a minha frente queria registrar o seu filho com o nome de Dan. O rapaz que o atendeu não quis fazer o registro, foi um bate-boca danado. O cidadão alegava que o filho era dele e que ele era um lutador de caratê graduado em primeiro Dan. Indagado, afirmou que se o seu segundo filho fosse outro menino iria se chamar Segundo Dan. Não fiquei lá para saber o resultado do embate, mas pela insistência do pai, certamente temos na cidade o Dan e o Segundo Dan.
Hoje, dentro do mesmo cartório, deparei com outro caso inusitado e que considero ser ainda mais exótico. O pai chegou com o documento do hospital rasurado - ele havia mudado a data de nascimento do filho. O atendente disse que era preciso voltar ao hospital para que fosse emitido um novo certificado de nascimento, pois com aquele o bebê não seria registrado.
O pai enfurecido disse que aquilo era um abuso e que não voltaria ao hospital, pois aquele certificado era o original. Imediatamente a confusão foi armada. O pai mais bravo do que cachorro de roça, queria partir para a briga. O segurança, um verdadeiro gigante, que estava no local, tratou logo de apaziguar o pai raivoso.
__ Qual é o problema?
__ Que problema?
Perguntou o pai esbaforido.
__ Parece que o senhor está meio alterado.
__ Quem? Eu?!
__ Sim, você.
__ Engano seu, só estou querendo registrar o meu filho.
__ Em que posso ajudá-lo?
__ Meu filho nasceu no dia vinte e quatro, só quero que ele seja registrado no dia 25.
__ Mas o problema é só este?
__ Sim, claro!
__ Mas o dia vinte e quatro é um dia muito bonito.
__ É mesmo?! E se o seu filho fosse chamado de veado?
__ Não! Aí não!
__ Tá vendo! É por isso que não quero este dia.
Depois de muita confusão chamaram o tabelião.
__ Senhor doutor! Estou aqui para registrar o meu filho, mas o seu funcionário não quer deixar só porque não quero registrá-lo no dia vinte e quatro.
__ Vamos fazer o seguinte, eu mesmo vou registrar o seu filho.
__ Doutor! Não sei como agradecê-lo, o senhor tirou um peso da minha cabeça, como é que eu ia dizer para a minha mulher que o nosso filho havia sido registrado justo no dia vinte e quatro?
__ Pode deixar, vou registrá-lo no dia vinte e cinco, só que o seu filho vai ficar registrado com um dia a menos e qual é o nome que você quer que eu o registre?
__ Ah, doutor, o nome é Maria José.
__ Como? Acho que não entendi.
__ Maria José.
__ Mas Maria é nome de mulher.
__ Eh, doutor, mas José é nome de homem.