RETRATO CRUEL DE COPACABANA
Manhã de sol na princesinha do mar. É a vida a cantar... funk. Observo peitos-bundas-silicone e seus loiros cabelos de negras raízes desfilando, de biquíni, no calçadão, na disputa pelo tesão do fotógrafo de uma revista “daquelas”. Também quer fotos um grupo de turistas amontoado ao redor do galã de telenovela, que escancara um açucarado sorriso porcelana, ao posar para elas. O Drummond de bronze tira várias! Abraçam, apertam, agarram seus óculos, obrigando-o a situações vexatórias. Ah, se as estátuas falassem... São todos tão felizes, que sequer enxergam o garoto sujo que perambula pela avenida Atlântica. Ele puxa a bolsa da senhora de quarta idade e décima quarta plástica! Está correndo da polícia! Toma um tiro! Esmaga-se sob as rodas de um carro importado! Mas na princesinha anciã, só cabe a beleza; os hotéis, bares e queima de fogos no reveillon. Então, recolhem o cadáver e o derramam na Ladeira dos Tabajaras, de onde veio (ouvi). Prosseguem à caça de flashes, domados pelas aparências. De repente (eu juro! Creiam em mim!), vejo Nossa Senhora de Copacabana parada sobre o mar, em meio à paisagem esplendorosa, tapando os olhos com as duas mãos e dizendo: “Que vergoanha, meu Deush! Que vergoanha!”