ADULTO TEM CADA UMA

ADULTO TEM CADA UMA

Quando menino descobria coisas. Coisas secretas, mas tão intimas e secretas elas eram que eu apenas sabia que eram secretas porque se confrontadas com uma pergunta as respostas eram sempre vagas, arfantes ou causavam um ricto cômico de riso que era eu que enrubescia.

Lendo uma vez uma revista que achei a casa de minhas primas vi um artigo a cujo titulo logo me chamou a atenção, dizia assim: “Sexo oral: como praticá-lo com segurança”. Intriguei-me. É claro, que mesmo aos onze anos ou dez (não sei bem direito), eu já tinha mais ou menos ideia do que era sexo, mas aquele sexo oral era o que me intrigava, e como eu sabia que aquelas revistas, mesmo estando dispostas a sala, no sofá à casa da minha tia, não eram permitidas para que eu as lesse, logo ouvir rumores de passos larguei-a, e fiquei cismando com tal artigo. Então oque haveria de ser aquele sexo? Encontrando uma prima ao quintal, que era a mais velha e parecia ser a mais boazinha, indaguei-a de supetão. Notei o susto dela diante da minha pergunta, e gaguejava, então enrubesci, senti meu rosto queimar, mas não notei nela tal transformação, embora hoje cresse que sim, devido ao ar atrapalhado em que ela tentava explicar, mesmo perguntando onde eu tinha visto devida referência. Disse que tinha ouvido por ai, na escola, ou pela rua, em alguma conversa de adulto. Ela pigarreou, esfregou as duas mãos pelo pescoço, então me disse que era beijo na boca, sim beijo na boca, isto era sexo oral. Ah, então só isto, é por que aquele cuidado em praticar com segurança, mas não disse nada ou me entregaria, pois a revistas assim como as outras do mesmo gênero eram-me proibidas.

Estarei mentindo se disser que fiquei pensando no assunto muito tempo. Aceitei mesmo a explicação. Sexo oral era beijar na boca. Isto eu via em qualquer lugar, quando saia da escola, até mesmo entre meninos e meninas já um pouco mais velhos que eu, mesmo no pátio. Então todo mundo praticava sexo oral em publico. O que havia de tão intrigante, o que precisaria ser administrado com tanto cuidado, o sexo oral é livre pensava eu, diferente do sexo “papai e mamãe”, este que faziam os bebês, que eram no quarto fechado, e causa disto o pai e a mãe tinham que dormir juntos a mesma hora. Logo comecei a observar, entre um pensamento diferente e outro, que os casais já velhos, casados há muito tempo e com filhos não praticavam sexo oral. Eu com dez anos não praticava sexo oral, mas os moleques da escola da mesma idade – que em sua grande maioria me desprezavam – diziam que já beijavam na boca, então praticavam já sexo oral. Eu não, nem menino nem menina. Mas eu ouvia dizer que era certo só beijar meninas já que eu me tratava de um menino. Na verdade eu tinha nojo de beijar tanto menina como menino, mas diziam que aquilo era bom, mas era preciso ser com segurança: como? Era preciso ler a revista, mas o conteúdo desta me embaralhava a mente, e ainda me era proibido. O fato é que talvez não fosse aconselhável que beijasse na boca.

O fato é que não me ocupei muito mais daquilo, afinal eu ainda era uma criança, e quando crianças temos muitas ocupações, mas acontece que fiquei sabendo da gravidez de uma adolescente que muito, naquela época, foi motivo de falação assim entre burburinhos, levando as mãos espantadas as bocas abertas nas tardes ensolaradas e secas daqueles áridos anos oitenta, e então deixei escapar às senhoras, que pareceram não perceber minha presença e que mesmo não acreditavam que eu ouvisse a conversa, a minha pequena contribuição de comentarista como uma criança que já se ver adulto:

_Se tivesse feito só sexo oral...