NOITES DE LUA AZUL
A Lua azul, que nem mesmo chega a ser azul, tem suas magias... É tão somente uma oportunidade em que num mesmo período de mês ocorram duas luas cheias, o que normalmente só deveria acontecer uma vez.
Fica por conta da impossibilidade do homem controlar de forma absoluta o tempo. E, quem sabe, até para disfarçar essa incapacidade, atribui-se à lua azul certas propriedades mágicas, como se fora um fenômeno especial.
Na verdade é, apenas e tão somente, uma noite de lua cheia como qualquer outra, quando os sonhos são interrompidos, a insônia aparece, o revirar-se na cama acontece. É uma noite, como outras noites de lua cheia, em que a prata cobre a cidade, e lâminas de prata riscam as ondas do mar, e se produzem sombras estranhas nas ruas, vielas e becos.
Não obstante a realidade, nossa fantasia, sempre em ação, promete magias, que tanto podem se concretizar num olhar de uma mulher, como num desejo incontido de ser apenas feliz, um sentir de que algo inesperado vai acontecer. Nós gostamos de imaginar o inesperado, o incontrolavel, o mágico, o especial, o imponderavel.
Está no sentir humano a sensação da estranheza, do milagre, daquilo que sabemos conscientemente ser improvável mas que desejamos ardentemente que se concretize. O homem tem sempre a esperança viva e ativa do acontecimento milagroso. Afinal, sem saber de onde e como veio, a crença no imponderável, base aliás de todas as religiões, manifesta-se amiúde no ser humano.
De uma forma ou de outra, a constatação simples é que hoje é uma noite de lua azul. O que me leva ao romance, ao carinho, à suavidade, ao acalento da mulher amada, distante, carente e provocando carências. E imagino que se estivesse presente estariamos juntos á beira-mar, observando contritamente o surgir da lua azul, entre carinhos e aconchegos, como manda o manual (ainda não escrito) dos romanticos e apaixonados.
E, para falar sério, nem mesmo precisaria que a lua fosse azul ou prata. Uma lua cheia nos diz tudo, nos faz sentir tudo, silenciosa e carinhosamente...