E aí, vai encarar?
Na turma da Dona Otília, a maioria dos alunos era muito estudiosa e se destacava pelo interesse e pela curiosidade. A professora sentia prazer e muita alegria com os resultados apresentados por cada um, até mesmo os que, de certa forma, tinham dificuldades para aprender.
A escola ficava numa cidade do interior e bem longe do centro urbano. As crianças que a frequentavam eram filhos de agricultores e dividiam o tempo entre os afazeres na roça, junto com os pais, e as atividades escolares. Quase todos davam conta do recado, pois a professora procurava fazer tudo durante as quatro horas em que estavam na sala de aula. Ela sabia que seus alunos voltavam muito cansados da lida com a terra e que não teriam disposição para fazer horas de deveres. Portanto, sempre que pedia alguma coisa para ser feita em casa, era possível fazer em mais uma hora de estudo, entre às seis e sete da noite, como ensinara para seus alunos. Ela dizia que, se todos fizessem as tarefas, no mesmo horário, era como se estivessem juntos, em sintonia. Estabeleceu um pacto que parecia funcionar muito bem.
Todas as atividades tinham a ver com o ato de aprender alguma coisa. Até as brincadeiras mais simples viravam motivo de aprendizagem. A professora Otília era uma mulher de meia idade, séria e inventava teatros, jogos, exercícios, brincadeiras que tinham a ver com os conteúdos que aqueles pequenos precisavam entender para lidar com a vida de um jeito mais fácil. Todos a respeitavam e sabiam o quanto era capacitada para fazer um bom trabalho. Nunca deixou de ser exigente e, ao mesmo tempo, amiga e solidária.
O destaque era para as atividades que faziam aqueles alunos entenderem melhor a terra onde plantavam e a região onde viviam. E nisso eles eram mestres! Todos tinham sempre algo para dizer ou comparar. Alguns contavam causos e outros falavam de suas experiências. Tudo era motivo para compreender melhor os fatos da vida. Desde as histórias do folclore da região até a importância da reciclagem do lixo em casa e da água na vida de cada ser.
Certo dia, a escolinha de dona Otília foi desafiada a participar de uma gincana cultural com as demais escolas do centro da cidade. A princípio, os alunos achavam que não tinham condições de disputar com os da cidade. Pensavam que não sabiam o suficiente para ganhar se quer a medalha de participantes.
Dona Otília conhecia cada aluno com quem dividia seu tempo. Sabia que aquele Quinto Ano do Ensino Fundamental era diferente. Confiava na capacidade de cada um. E por isso iniciou um trabalho intenso com a garotada.
Todos os dias, além dos conteúdos normais de aula, fazia um momento de retomada e revisão do que eles já tinham visto durante o ano. Queria garantir que seus alunos saberiam as respostas quando alguém lhes perguntasse algo. E foi assim durante os dois últimos meses antes da grande dia.
A professora confiava no trabalho que fizera e na capacidade de cada criança que frequentara suas aulas. Todos fariam a avaliação com a certeza de que se sairiam bem. E assim aconteceu. Ninguém deixou de festejar o resultado da turma de dona Otília. Agora, com a autoestima elevada, quem iria encarar a melhor turma da região?
- E você aí, vai encarar?
Luciane Mari Deschamps