Dependências
Natália recebia os aplausos comovida: tinha ganho uma batalha.
Estava curada da obesidade crónica e compulsiva, o programa tinha durado três anos.
Sentia-se feliz! Começar uma nova vida era tudo o que mais desejava.
Tinha um bom emprego, morava com a avó, desde que a mãe tinha fugido com um homem mais novo.
Natália estava sentada a folhear o jornal à beira-mar na sua esplanada favorita, quando de repente um anúncio lhe despertou a atenção.
« Rapaz solteiro com 37 anos deseja conhecer a sua alma gémea.»
Natália não pensou duas vezes e respondeu ao anúncio.
Passado dias recebeu a resposta juntamente com uma fotografia de um homem muito belo. Ele deve ser uma pessoa muito sensível, pensava Natália lendo o poema que veio juntamente com a foto. Trocaram poucas cartas e combinaram encontrar-se, afinal até moravam na mesma cidade.
Rogério era um homem alto de olhos verdes e cabelo castanho. Era simplesmente belo!
Passaram a encontrar-se quase todos os dias. Natália estava a ficar dependente daquele homem que lhe oferecia flores e a enchia de mimos.
Um dia falou com a avó, gostava que ela conhecesse o seu namorado.
Rogério foi jantar a casa de Natália, oferecendo flores e bombons às duas, apresentando-se como sendo dono de uma grande imobiliária. Em jeito de conversa e profissional brioso,
Durante o jantar, Rogério garantia que a casa da Natália valia muito dinheiro.
A avó disse logo que a casa era dela, e não da neta como ele pensava, e que, de qualquer maneira, estava fora de questão vender a casa. A avó não simpatizou com Rogério, algo lhe dizia que ele se fazia passar por quem não era.
Natália não gostou da atitude da avó e entregou as suas economias ao Rogério, que ele subtilmente não queria aceitar.
Numa discussão com a avó, abandona a casa e vai ter com o Rogério a casa dele.
Este fica muito admirado de a ver, pois nunca tinha dito onde morava.
Natália explicou que trabalha para o governo e só precisou de fazer dois telefonemas para o encontrar e que já sabia o que ele fazia.
A polícia depressa o ia descobrir.
Rogério com a sua astúcia convenceu -a a não dizer nada.
Natália entregou-se cegamente ao amor e à paixão.
Pouco depois, mudaram de cidade e
Rogério continuou com as suas conquistas e aldrabices do costume, as vítimas eram sempre mulheres muito carentes, mas endinheiradas.
Natália entrou no jogo dele, passava por ser sua irmã viúva e por vezes assistiu ao charme que Rogério exercia sobre elas. Sempre com um sorriso nos lábios, participava naqueles jogos de fraude. Havia vezes em que ela não aguentava tanta hipocrisia, o sofrimento que sentia era tanto, que fazia um escândalo, estragava-lhe o negócio.
Rogério sabia do ponto fraco de Natália e dava-lhe sempre o que ela queria , atenção e amor.
Natália suplicava-lhe para deixar aquela vida e arranjar um emprego decente, pois mais tarde a polícia iria prendê-lo.
Rogério ria-se e dizia que era um lobo velho.
Natália ao fim de alguns meses compreendeu que não queria aquela vida, caindo em si, foi-se distanciando do Rogério.
Um dia abandonou-o e foi ter com a avó, que a recebeu de braços abertos.
Rogério, furioso, foi falar com a Natália, pedindo-lhe que voltasse para casa.
Vendo-a reticente, ele suplicou, chorou, usou todo o seu charme, agrediu verbalmente, mas Natália, muito segura de si, respondeu-lhe friamente: estou curada da minha dependência por ti.
Rogério saiu furioso, batendo com a porta com força.
Natália grita: Seu sacana!
E uma frase vem-lhe à cabeça.
“Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe.”